Fluir

Olhei para o céu e avistei um par de borboletas dançando entre as nuvens. No fundo azul do céu, parecia uma pintura em movimento. Eu nem peguei o celular para registrar aquele milagre, por que não queria perder aquele instante que parecia feito só para mim. Fiquei um tempo me perguntando se era um acasalamento de borboletas, se estavam namorando, ou sei lá que relacionamento era aquele. Elas dançavam no ar juntas com muita leveza e nunca havia atrito, era uma dança leve, harmoniosa e bela. Quando as borboletas sumiram com a colorida dança e o céu voltou a ser azul infinito.Eu lembrei de um livro que li há muitos anos, do Milan Kudera," A insustentável leveza do Ser" eu entendi que muitas vezes as nossas escolhas por mais leves que sejam com o tempo, trazem também o
peso. Consiste na eterna dualidade entre permanecer leve na nuvem densa do pesada do mundo. Eu escolho dançar entre a leveza e o peso, eu quero fluir com o comprometimento e a liberdade na fluidez. Quero aprender muito com as borboletas. Como permanecer leve e me relacionar com o peso do mundo? Como viver intimidade com alguém lidando com meus pesos e medidas sem pesar na vida do outro e ao mesmo tempo não sentir o peso do outro em mim? Me parece que "A insustentável leveza do ser" se relaciona com a minha percepção de que as relações ficaram realmente líquidas como disse Bauman, e se vivemos numa sociedade de consumo marcado pela fragilidade dos laços, a minha realidade é buscar conexões verdadeiras. Fluidez para mim tem outro significado, é ter fluidez é viver intensamente diante da presença de alguém e ao mesmo tempo, permanecer leve para quando os pesos chegarem e seguir em frente quando o momento escapar. Mas não é nada fácil este movimento de fluidez na vida, ele pode ser transcendental e pode ser também denso, e o que importa é o sonho e "errar bonito" como disse Manuel de Barros. " Tudo que é sólido se desmancha no ar" como disse Karl Marx, é o eterno diálogo entre o Apolíneo e Dionisíaco..

Comentários