A GAIVOTA

"...por que você disse que beijava a terra em que eu pisava? O certo seria me assassinar. (inclina-se na mesa) Estou tão esgotada! Quem me dera poder descansar... descansar! (levanta a cabeça) Eu sou uma gaivota... Não, não é isso. Eu sou uma atriz. É isto! (ouve o riso de Arkádina e de Trigórin, põe-se á esquerda e olha pelo buraco da fechadura) Ora... Não e nada... Sim... Trigorin... Não acreditava no teatro, sempre ria dos meus sonhos, e assim, pouco a pouco, eu também fui deixando de acreditar e caí num desânimo... E então vieram as aflições do amor, os ciúmes, os receios incessantes com o bebê... Eu me tornei mesquinha, fútil, representava de forma leviana... Não sabia o que fazer com as mãos, não sabia como me postar no palco, não dominava a minha voz. Você nem pode imaginar o que é isso, um ator perceber que está representando pessimamente. Eu sou uma gaivota. Não, não é isso... Lembra que você matou uma gaivota com um tiro? Um homem chegou por acaso, viu uma gaivota e, por pura falta do que fazer, matou a gaivota... O tema para um pequeno conto. Mas não é isso... (Esfrega a testa com a mão) Do que eu estava falando... Falava sobre o teatro. Agora não sou mais assim... Sou uma atriz de verdade, represento com satisfação, com entusiasmo, uma embriaguez me domina no palco e eu me sinto bela. Agora, enquanto estou aqui, caminho o tempo todo, caminho e penso, o tempo todo, caminho e sinto que meu espírito se torna mais forte a cada dia... Agora eu sei, Kóstia, agora eu compreendo que no nosso trabalho, representando no palco ou escrevendo, oque importa não é a glória, não é o esplendor, não é aquilo com que eu tanto sonhava, mas sim a capacidade de suportar. Aprenda a carregar a sua cruz e acredite. Eu acredito e, assim, nem sofro tanto e, quando penso em minha profissão, não sinto medo da vida." monólogo de nina A Gaivota Anton Tchekhov .

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