Monólogo no deserto

Minha dança não me define, mas foi e continua sendo meu espaço de expressão da minha palavra não dita. Não existe construção de destino e identidade sem liberdade, e o lugar onde me sinto livre é quando estou dançando. Reescrevo minha natureza morta, vejo minha humanidade e busco entender os meus sentimentos para me recriar em cena e na vida. Sou minha matéria-prima, meu relevo disforme, minha semente plantada, meus olhos diante de um mundo que me devora se não ficar e me definir no meu espaço interno. Porque preciso dançar nem que seja sozinha diante do espelho, dos meus bichos e das minhas plantas. São meus sonhos privados que me levam a levar minha alma para o universo. Sendo quem sou no espaço que me permito, pernas, braços, olhos e bocas que podem me escrever no livro da vida. Merleau-Ponty discorreu sobre o "olhar corporificado", em que o corpo ativo na interação com o mundo produz a percepção e experiência.

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