Quando escrevo, é como se a porção mágica de minha vida secreta, de tão mexida dentro de mim mesma, precisasse sair, encontrar almas como a minha, sedentas de imaginação e beleza.
Clarice Lispector no seu livro A paixão segundo G.H. afirmava que conservava uma aspa à direita e outra à esquerda para falar de si mesma. Eu conservo a palavra à direita e a dança à esquerda. Eu danço entre estes universos, me danço palavras. Ultimamente tenho atraído alunas de dança que para a minha surpresa, estão identificadas com a minha escrita. Eu nunca imaginei que minhas palavras fossem um convite para dançar. Sou uma atriz que dança palavras. Estou unindo minha essência, meu gesto, meu sentimento a algo maior do que eu... Uma arte que seja fenomenológica como disse Merleau-Ponty, que estude as essências, que resgate o prejuízo que a filosofia de Platão e Descartes nos deixaram como legado, com a separação da mente e do corpo. Eu me penso como uma totalidade no mundo, estando presente com a minha corporalidade.
Eu sonhei recentemente com esculturas de partes do corpo exibidas num lugar estranho, cabeças, troncos, pernas, braços, fragmentados, senti medo e jorrava água ao lado delas. Acordei assustada, foi um pesadelo para mim. Conversando com uma amiga sobre este sonho, ela é terapeuta e estudiosa do Tarot.
Minha amiga me apresentou a carta da morte. E me mostrou na ilustração da carta o seu simbolismo, com plantas azuis e amarelas, restos mortais de seres humanos brotando do solo, fragmentos de corpos aos pés da figura da morte, havia também a cabeça de uma mulher e um homem coroado...A morte representada por um esqueleto. A morte no Tarot é uma transformação profunda, significa deixar o passado e se abrir para um novo ciclo.
Eu pensei nos fragmentos, a morte para mim é perder minha intensidade de estar inteira na vida.
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