Ontem foi a apresentação do Sangrando Feminino. Eu sempre gostei daquela música dos Beatles" let it be", acho bonita esta possibilidade que esta música oferece de em momentos difíceis recorrer à mãe Maria e no final deixar estar, confiar que tudo se resolve. Mas sempre me identifiquei também com os Rolling Stones e a música , Let It Bleed que para mim é outra possibilidade, a de confiar em alguém, se deixar sangrar sentir o apoio de alguém. Incrível que algumas horas antes da nossa apresentação, nós recebemos a denúncia de uma mulher apavorada sendo agredida pelo seu companheiro e ela está grávida. Rapidamente todos do grupo Sangrando Feminino, todos sem exceção iniciamos uma operação para salvar esta mulher. Ele confiscou o telefone dela, excluiu sua página do Facebook. E sem o endereço da vítima a polícia não pode fazer nada. Foram horas de tensão e medo. Medo de feminicídio. Eu chorava ao telefone com minhas amigas. Mas esta rede que formamos em torno desta mulher salvou sua vida e dos seus filhos . Como na música pedimos a ajuda de Deus, da Deusa, Deixando a espiritualidade nos guiar, mas sangrando por dentro e agindo para prender este ser ignóbil. No final do dia, estávamos exaustos e com ele preso e nossa querida amiga protegida no colo de sua mãe. Mesmo assim no horário marcado, todo mundo com a alma ferida, iniciamos a nossa Performance e nunca oferecemos ao público, este espetáculo com tanta verdade. Era muito visceral e profundo, todos movidos pela urgência de expressar na nossa arte a urgência de buscarmos uma força maior do que nós, para que nunca, nunca mesmo, uma mulher precise sangrar sua alma. Durante o espetáculo fomos percebendo que a maioria na platéia era formada por homens, que assistiam atentamente nosso manifesto, nosso grito, nosso riso, nosso choro, nossa infinita vontade de pegar nas mãos de todos e todas para formarmos uma grande rede de seres humanos em busca da proteção da vida. Esta experiência nos deixou mais unidos, formamos uma irmandade, com flores, dança, poesia, música, luz, sombra e livros, afinal cada um só pode oferecer o que tem, e nós temos um profundo respeito e reverência para o amor, para a natureza, para a vida. Infelizmente nós não poderemos divulgar nada sobre a identidade das pessoas envolvidas nesta tragédia da natureza humana, o perigo continua iminente e o medo desta mulher também, sua vida corre perigo, e ela está gerando uma nova vida. Aquele sentimento de impotência, apesar de termos feito tudo o que era possível. Que estas canções nos ensinem a buscar a ajuda divina, ter fé e que esta rede de apoio cresça infinitamente a ponto de sangrar, a vida é sagrada. Este é o momento de buscarmos um diálogo com a natureza. existência43"
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