SOBRE O PESO E A LEVEZA DO SER

Olhei para o céu vi um par de borboletas super coloridas voando juntas, no fundo azul do céu, parecia uma pintura em movimento. Eu nem peguei o celular para registrar aquele milagre, por que não queria perder aquele instante que parecia feito só para mim.Fiquei um tempo me perguntando se era um acasalamento de borboletas, se estavam namorando, ou sei lá que relacionamento era aquele. Elas dançavam no ar juntas com muita leveza e nunca havia atrito, era uma dança leve, harmoniosa e bela. Quando elas sumiram com sua dança e o céu voltou a ser azul e vazio, não havia nuvens no céu,lembrei de um livro que li há muitos anos, do Milan Kudera, A insustentável leveza do Ser. No livro ele me revelou que muitas vezes as nossas escolhas por mais leves que sejam trazem também o peso da vida. Consiste na eterna dualidade na busca por leveza e na dualidade do peso e da leveza.Interessante que o livro virou filme e foi muito importante para mim, adolescente. Na época em que o livro foi lançado percebi que Kundera entrevê na noção de Eterno Retorno da filosofia Nietzscheana e a escapatória para o arrependimento que pode decorrer da escolha entre a leveza e o peso, o comprometimento e a liberdade pura. Tenho que aprender muito com as borboletas afinal como permanecer leve e me relacionar com o peso do mundo? Como viver intimidade com alguém lidando com meus pesos e medidas sem pesar na vida do outro e ao mesmo tempo não sentir o peso do outro em mim? Me parece que A insustentável leveza do Ser ficou realmente líquida como disse Bauman, e se vivemos numa sociedade de consumo, onde o próprio Ser humano virou mercadoria, a leveza ficou líquida justamente por que o peso das relações gerou uma falta de comprometimento e o ideal é viver relações vazias de conteúdo, será que somos todos mercadorias? Segundo Este filósofo vivemos a era cujo estilo de vida é marcado pela fragilidade dos laços e por uma fluidez caracterizada como líquida, estranho que fluidez para mim tinha outro significado, ter fluidez era viver intensamente diante da presença de alguém e ao mesmo tempo, permanecer leve para quando os pesos chegarem e seguir em frente quando o momento escapar. Mas não é nada fácil este movimento de fluidez na vida, ele pode ser superficial e pode ser também pesado quando nos envolvemos e vemos nossos sonhos "sólidos se desmancharem no ar" como disse Karl Marx. O fato é que esta imagem da dança das borboletas no céu me fez ter um sonho estranho, sonhei que chovia, eu entrava numa casa com duas esculturas e diante dos meus olhos, elas ganhavam vida e narravam com o corpo sua história com movimentos até chegar no estado inicial da escultura, era como se a alma do escultor se manifestasse para narrar todos os seus devaneios, nuances e sentimentos ao criar sua obra estática, eu sempre fiquei intrigada com os escultores, acho que por que fui modelo vivo e o movimento na imobilidade era um trabalho corporal diário. Era preciso ser leve e pesada nos movimentos que precisavam de precisão e força muscular, a imobilidade exige tensão dos músculos do corpo e controle da distribuição do peso e ao mesmo tempo a vida, o eterno diálogo entre o Apolíneo e Dionisíaco..

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