Sobre a pausa no movimento, hoje presenciei um exemplo perfeito. Uma borboleta parou no jardim para mim, ela permaneceu totalmente imóvel na minha frente, eu acho que era para mim, achei até que ela parecia menos colorida ,mesmo sendo um símbolo de transformação e impermanência, ela estava plena na sua pausa. Talvez por que sua vida é tão breve, o seu movimento corta o espaço cheio de leveza, é a cor em movimento desafiando a gravidade com leveza e fluidez. Estou ensaiando uma coreografia de dança clássica Indiana que exige imobilidade em movimento. Dançar é movimento, mas a imobilidade é movimento e presença e escuta de qualidade, é preciso parar os pensamentos, buscar a ordem assimétrica, através de um caminho paradoxal. E, paradoxalmente a busca das emoções , das diferenças , deve ser a outra face da busca da unidade e da inteireza. A coreografia é importante, mas desenvolver este estado de presença no repouso é necessário como um mármore vivo a linguagem energética. A dançarina não se concentra diretamente na energia, mas nos canais por onde fazê-la passar. De modo semelhante , quando um arquiteto de chafarizes deseja que a água dance, ele não interfere na natureza da água, e sim cria canais seguindo todas regras da ciência hidráulica. Os canais não são a dança. Mas quando a água passar através desses canais, ela vai começar a dançar. Um movimento estático está relacionado à atenção plena no ato de se dançar, o estado de consciência que permite unir emoção, gesto e velocidade, simultaneamente força e delicadeza, não mover músculos exige muita força interior e controle dos movimentos e ao mesmo tempo leveza e fluidez por que a velocidade dos movimentos pode executar variações da velocidade, da pausa para um movimento muito acelerado, ou lento. Sendo assim, a energia no tempo se manifesta por meio de uma imobilidade que está atravessada e carregada por uma tensão máxima: é uma qualidade especial de energia, que não é, necessariamente, o resultado de um excesso de vitalidade ou do uso de movimentos que deslocam o corpo. Nas tradições orientais, o verdadeiro mestre é aquele que está vivo na imobilidade. Nas artes marciais a imobilidade é um sinal de prontidão para a ação. Busco inspiração na máxima Taoista “ A tranquilidade que tranquiliza , não é uma tranquilidade verdadeira: o ritmo universal só se manifesta quando há tranquilidade em movimento.” O equilíbrio no desequilíbrio baseados na tensão entre as sequências coreográficas que produz no espectador a sensação de movimento mesmo quando há imobilidade. É como esculpir o tempo, dando-lhe ritmo e ao esculpir o fluxo do tempo , que não é medido pelos relógios ou pelos calendários, a dança deixa sinuosa esta linha do tempo que no cotidiano é experimentado de forma abstrata. A dançarina através do ritmo se materializa através da sensorialidade do gesto. O aprendizado desta linguagem consiste na execução de cada adavu em três velocidades ou kala. O primeiro Kala é lento, o segundo kala é médio e o terceiro kala é muito rápido. Os goongros , um instrumento musical de percussão, usado pela dançarina que toca as notas com os pés, usados nos tornozelos não tem a função de adorno . A dançarina faz a percussão com os pés. Outro princípio importante é a plasticidade dos movimentos e o diálogo com as artes visuais, a dança é um poesia corpórea em movimento, que compõe a plasticidade dos gestos com o figurino e a maquiagem. A música se materializa através da imagem, o corpo desenha a música no espaço. Cada detalhe do corpo, realiza uma composição, com cor, luz, sentimento, ritmo e melodia. O tratado da estética de Rasa, que significa suco, seiva , relaciona a dançarina a uma gourmet. Ela prepara uma iguaria para o público com o seu corpo, plasticidade, percussão com os pés, Bhava(Sentimento) tala( ritmo), e Raga (melodia) e quando todos os ingredientes estão adicionados ao preparo da iguaria, esta é ofertada ao público e quando o público sente o sabor acontece o deleite estético e toda a substância da pausa no movimento acontece, por que o espaço da realidade se faz transcendência . O lugar que pertence o inefável, tempo e espaços suspensos , a pausa onde o sonho não é o fim é uma curva.
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