POESIA CORPÓREA

Entrei no supermercado vazio, numa manhã de chuva e estava tocando .Johann Sebastian Bach. Comecei a andar bem devagar, só para não perder aquele momento, a música suave, penetrando minha alma,. Estamos vivendo tempos estranhos. Estava vivendo meu tempo Kairós da minha degustação estética. O tempo oportuno, ou auspicioso para os Hindus, o conceito do vazio no inusitado, que atravessa a dobra do tempo, o tempo da experiência, o desejo se encaixa no desejo do tempo, e tudo se organiza numa inteligência maior, no plano cósmico. Acho que são detalhes que acabam se transmutando em momentos muito simplificados e sofisticados, que me fazem gostar de viver. Mesmo necessitando tatuar o sentido da arte em minha pele, gravar o sentido nos ossos e a busca da dimensão dos que vieram antes de mim e deixaram sangue, suor, lágrimas, para tocar um acorde, uma imagem feita, sonhada, narrada, um movimento que atravessou o tempo do eterno, há milênios. Fico ainda impressionada de sentir que todo o absurdo do mundo, nada amorteceu os meus sentidos, ainda não sou feita de polietileno. Saí do supermercado com a visão do arco-íris no céu nublado. São várias de mim, dialogando com a minha necessidade de poesia.

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