" MENINA SILENCIOSA"

O filme "A Menina Silenciosa (An Cailín Ciúin)", dirigido por Colm Bairéad, me tocou na alma, assisti no cinema Lyberty Mall. É a história de uma menina, que vive com a sua família numa região rural na Irlanda. A família da menina,é uma tristeza, uma mãe cansada e um pai grosseiro, um lugar muito pobre, mas é a pobreza da falta de alma que me chama a atenção, da vida que não teve a oportunidade de conhecer a poesia da vida, a linguagem do singelo, de conexões amorosas. Um exemplo completo de uma casa cheia de gente, mas muito distante de um lar,uma indiferença completa, não tem uma rachadura que permita a entrada do afeto. O casal tem uma relação hostil, mas seguem gerando filhos, sem afeto. Ninguém se importa com ninguém naquela família. E dentro desta tristeza toda, a menina da história, está crescendo sem ser vista, percebida, ela própria está diante de todos, no modo invisível,resignada com a rejeição, ninguém percebe esta menina na família, na escola, ela cresce no meio do nada. A família envia a Menina para passar um tempo na fazenda de um casal sem filhos. Quando ela chega na fazenda, tudo fica iluminado diante do amor, ela é recebida com muito amor. Esta menina não sabe tomar banho, descascar batatas, tudo o que é elementar numa criação, se foi recebida, com amor e cuidado, nunca havia existido para ela. Este lar que ela chegou, era novidade, um lugar sem hostilidade, onde as pessoas falam baixo e com sentimento e a natureza é um colo. Aos poucos, ela começa a florescer, e é eletrizante ouvir as palavras saindo de sua boca, o carinho e a atenção se revelando para ela. Como disse Clarice Lispector, sendo tratada como se fosse um pote de ouro. Tem um momento em que um pensamento da mulher que acolhe esta garotinha, conversa comigo: "como uma família tem a coragem de enviar uma menina para conviver com desconhecidos?". E é esta a sensação durante o restante do filme, o meu medo daquela menina voltar para aquele lugar. O filme é tão sutil e belo, encanta pelos detalhes e eu não percebi, com mais de uma hora de filme, que um universo todo de afeto já tinha se derramado dentro de mim. É muito emocionante perceber a carícia das coisas suaves, que muitas vezes não percebemos, mas que é o sabor da vida. Esta é a mágica da arte, este filme desenha para nós a importância do afeto, é a cola que nos permite crescer e florescer.

Comentários