Impermanência

Durante uma caminhada no parque, uma folha de uma àrvore caiu bem na minha frente. Lembrei da frase, "Não cai uma folha de uma árvore sem que Deus permita." A frase está escrita no Alcorão. Sobre esta sabedoria entre o que está escrito que pode ser o destino e o mistério da experiência da impermanência, ainda estou no meio do caminho. Fui pensando sobre tudo isso e lembrei de Clarisse Lispector: "Um dia uma folha me bateu nos cílios. Achei Deus de uma grande delicadeza."Eu percebi esta delicadeza de Deus, quando comecei a prestar atenção nos detalhes. Nesta época do ano tem muita manga no parque, e eu sentei embaixo de uma árvore para saborear uma manga. Quando retomei a caminhada, lembrei dos meus óculos escuros, e voltei feliz por ter lembrado a tempo de recuperá-lo. Mas diante de muitas árvores, não sabia mais qual era a árvore que eu tinha esquecido os óculos. Comecei a procurar olhando uma de cada vez, parecia que eu estava cumprimentando cada uma. Quando chegou este pensamento, eu abri um sorriso, e eu senti o vento, pássaros cantando e já estava com os braços ocupados com mangas que eu fui colhendo.Naquela altura eu não lembrava dos óculos, muito menos da árvore. Eu abraço árvores, dancei árvores, mas saudar uma única dentro de um universo de árvores foi a primeira vez. Retomei a minha caminhada, os óculos ficaram para trás. Mas isso é impermanência, a experiência que nos atravessa, fica. É o que eu mais aprecio na vida, quando meu espírito ganha presença, e recebe desfrutar uma experiência.

Comentários