Live

E foi assim que fiz minha primeira live, dancei o meu espetáculo de dança Baraka, da sala da minha casa. Meu corpo comprimido,fechado e com medo. . Dancei a minha insegurança e deixei o meu corpo falar. Os movimentos intensos brincavam com o meu peso e leveza. Meu corpo acessou memórias desconhecidas e num certo momento entrou numa vivência muito profunda, me tirando do porão. O corpo é um mistério. A emoção explodiu dentro do corpo, era como se toda a minha musculatura estivesse querendo sair, ampliar e ao mesmo tempo angustiada por dentro e intensa, o corpo explodindo querendo voar. Tenho muitas camadas. Precisei caminhar por minhas retas, curvas, transcender o concreto armado, e me encontrar na assimetria diante do espaço vazio e da aridez do deserto que é algum espaço meu, ainda inefável, inominável. Sair da "secura" do "Ser" e penetrar na poesia das árvores e do céu, dentro de mim. Coloquei meu corpo à disposição da minha nova experiência de dançar opressão, para merecer liberdade. Dancei num segundo movimento alegria, força e sensações de brilho e trancendência. Muita coisa acendeu dentro de mim, cheguei e dancei com Deus dentro de mim e minha coragem. No final da dança, eu encontrei o olhar do outro, através dos comentários de quem me assistia, maravilhados, muitos corações e palavras de amor, me senti querida, me cobriram com o manto do amor. Eu quero agradecer aqui, ao público que me assistiu, que abriu espaço no tempo para me ver. Eu novamente com as imensas possibilidades de renascimento em vida, em movimento. Amigos, estudantes das lições do nosso grande mestre, o nosso corpo. Dançar nos palcos da vida, e agora com uma câmara intermediando. Dançar a minha vida, me salvou da minha morte. A vida! Seus ciclos, repletos de amigos, amores,filhos, família, flores , dores e sabores. Felicidade é estar vivo, inteiro e integrado ao grande mar de mistério que somos nós, os outros e o universo. Para mim isso é Deus dentro de mim, uma grande consciência cósmica, um acontecimento. Acho que eu me comportava como as pessoas no início da fotografia que acreditavam que ao serem fotografadas suas almas seriam roubadas. Eu sempre me identifiquei com o efêmero na dança, me dava uma certeza de que sempre tinha que ser pra valer, por que aquele momento não iria se repetir, mesmo dançando no dia seguinte a mesma coreografia. Agora na vida, sempre tem que ser sempre pra valer mas a gente esquece, que a nossa presença é temporária neste planeta. A sensação de ver minha dança registrada para sempre, me dava medo. Agora minha dança está lá, no Instagram, uma parte da minha alma ficou lá naquele vídeo. Nestes tempos em que estamos vivendo a desmateriização da nossa presença física, devido ao isolamento causado pelo vírus e todas as ameaças de nossa extinção, parece que o que é eterno, visto, revisto, tocado, registrado pode ser um alimento para nos explicar novamente. O registro de nossas pegadas virtuais estão nos indicando caminhos para encontrar novamente nossa essência. Tenho Assistido artistas incríveis na minha casa, parece que conversam comigo, sinto simplicidade e humanidade, intimidade, neles. Hoje assistindo a Live da Mariana d'Ávila e do Leonardo Boff, ele disse que foi a solidariedade que nos tornou humanos, nos primórdios se alguém encontrava comida voltava para alimentar os demais do clã, e este sentimento de unidade aponta um caminho e que uma das origens da palavra crise em sânscrito significa purificação.

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