A caixa de temperos

Estava em 2018 com uma perda dolorosa para administrar, o meu amor tinha partido para o plano espiritual. Meus amigos fizeram uma festa para mim, igualzinho o Conselho do Maomé, " Se Maomé não vai a montanha, a montanha vai a Maomé." Eu queria me isolar, não ver ninguém, nem festejar nada... Mas quando abri a porta eles estavam trazendo a festa para mim, com bolo, risos, amor, uma grande amiga tocando violino. Foi uma grande emoção, e ainda um presente que é a minha cara, coisa de gente que me conhece e me ama, era uma caixa para organizar chá. Eu amo chá! Com o tempo, sem perceber, eu realmente não percebi quando comecei a substituição do chá por temperos. Hoje, cozinhando, me peguei lembrando daquele momento com muito amor e alegria, e a dor que sentia nem doía mais. A gente percebe na hora quando superou, sem deixar de sentir saudade e honrar quem teve que partir antes de nós. A caixinha que me foi dada para aquecer o meu coração nas noites de choro, virou uma caixa de temperos. Agora ela se ressignificou durante a pandemia, tive que aprender a cozinhar o básico. Os temperos, o cheiro da comida exalando pela casa, o afeto invadindo o ar, a comida nutrindo cada um. Fui percebendo o efeito eterno de um gesto de amor. E como a vida pode ser mágica. Somos efêmeros, mas o efeito de amor que provocamos em alguém nunca morre.

Comentários