"Nós vos pedimos com insistência: Nunca digam - Isso é natural!

O artista Andy warhol( 1928- 1987), um dos ícones da pop art, criou uma série intitulada "morte e desastre", tudo começou em 1962, quando ele viu uma foto no jornal com a manchete "cento e vinte pessoas morrem num acidente de avião". Ele refletiu sobre o bombardeio incessante de imagens com atrocidades e o quanto vamos perdendo o sublime e somos incessantemente anestesiados, diante de cada dose de horror que vai massacrando a nossa subjetividade de sermos tocados, diante da realidade, provocando distanciamento, uma asséptica forma de não sentir empatia, com o sofrimento. Andy warhol afirmou que quando você vê uma imagem horrível repetidas vezes, esta imagem realmente passa a ter não efeito nenhum é como se os nossos sentidos fossem amortecidos. Nesta série, ele se apropria das imagens de jornais e usa a serigrafia para reproduzí-las massivamente. Quando uma tragédia é repetida diariamente, tudo fica banal e abstrato aos nossos olhos. A reprodutividade incessante, banaliza o sofrimento diante dos fatos e transforma o horrível em algo que parece que faz parte da nossa rotina, 600.000 mil mortos, um genocida desfilando sem máscara no hospital, expondo o seu corpo, sedento por mais conflitos, se lançando como lenha na fogueira. Nós que continuamos sem entender tanta brutalidade, nos agarramos a esta falta de resposta que nos une, que nos proporciona um sentimento de impotência e ao mesmo tempo como na arte, existimos como um espaço dentro de nós que busca o afeto e a total coragem de não se deixar engessar nesta Matrix. Atualmente fiquei muito estarrecida com as cenas do vídeo com imagens de homens violentos, agredindo mulheres com os seus bebês no colo. Quando foi que chegamos a este estado de amortecimento das nossas emoções? Andy warhol também propõe uma reflexão sobre os absurdos dos discursos que ouvimos, que foram feitos para a capas dos jornais, para abalar a nossa humanidade diante de tantas mortes todos os dias e o dilema do desejo de vida, amor e pertencimento. Dramaturgo e diretor Bertold Brecht (1898-1956)
Diante dos acontecimentos de cada dia, Numa época em que corre o sangue Em que o arbitrário tem força de lei, Em que a humanidade se desumaniza Não digam nunca: Isso é natural A fim de que nada passe por imutável."

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