"Mas louco é quem me diz E não é feliz, não é feliz..."

Na adolescência o meu maior medo era de ficar louca, e ser internada num hospício, eu consultava um psiquiatra e tinha uma consulta agendada, aconteceu um imprevisto e ele perguntou se ele poderia me atender no hospício, eu aceitei. Era uma consulta, mas os momentos que antecederam a minha consulta foram terríveis. A minha mente ficava elaborando um pensamento de que se ele me declarasse louca, e eu assinasse um papel, eu ficaria lá para sempre. Quando eu entrei no consultório e falei do meu medo, ele riu muito. Me disse que e eu ainda ia fazer muita loucura na vida, mas a loucura que a humanidade precisa, que era eu expressar meus dons, e a coragem de mudar o mundo para melhor, era só eu me cuidar, mas que aquele lugar nunca seria para mim. O conselho dele. Saí aliviada, e ao mesmo tempo, esta experiência me me marcou a vida toda e me fez conhecer a grande Artista Camila Claudell, ( 1684- 1943) uma grande escultora, que sofreu muito, terminando a sua vida internada como louca e morreu abandonada e ofuscada num asilo na França. Sofreu a incapacidade da época de ser reconhecida a sua genialidade, uma mulher não tinha este direito. O destino das Mulheres na história: fogueira, asilo, casamento arranjado, convento, só para citar os destinos mais usados contra nós.O peso de se relacionar com Rodin , considerado o pai da escultura moderna, foi a sua ruína, os dois viveram uma grande paixão, e como assistente dele e aluna, não teve a oportunidade de ser reconhecida e a sua obra foi ofuscada. Segundo especialistas algumas obras do Rodin, são de autoria dela. Outra artista que me encantei foi Zelda Fitzgerald née Sayre, (1900-1947), "foi uma romancista, contista, poetisa, dançarina, pintora e socialite norte-americana e a esposa do escritor F. Scott Fitzgerald". Zelda foi um ícone na década de 20, apelidada por seu marido de "a primeira melindrosa americana". Zelda também foi plagiada pelo marido que não suportava o seu talento, isso nos anos 20. Ele havia se apropriado de textos de autoria dela, que também foi diagnóstica com esquizofrenia e também morreu num incêndio num sanatório, onde estava internada. . No Brasil, Maura Lopes Cançado, autora do livro " O hospício é Deus"...Eu não sei o porquê, se internou num hospício espontaneamente pela primeira vez em 1949, em Belo Horizonte. Posteriormente, mudou-se para o Rio de Janeiro onde passou a publicar contos no Jornal do Brasil e internou-se ou foi internada, inúmeras vezes em instituições psiquiátricas. A História oprimiu a mulher e a loucura foi e continua sendo uma ferramenta. Esta semana eu li uma matéria sobre um empresário da Música que forjou a internação da esposa, a sorte é que ela conseguiu se comunicar a tempo para reverter a situação. Na minha vida, quando eu estava tentando me entender, eu era chamada de louca e me sentia desqualificada, atualmente depende do contexto e do grau de frustração de quem está me chamando de louca, muitas vezes me chega como um elogio. A loucura pode ser da genialidade e da lucidez, mas eu evito atribuir loucura a psicopatas e perversos,aprendi isso recentemente. A pior coisa do mundo é ter preconceito com a saúde mental de alguém, a pessoa trava uma batalha consigo mesma todos os dias e merece respeito e o direito ao tratamento. Talvez, quem sabe ? A chave para mudar o mundo não virá dos loucos que se recusam, quer seja por alguma questão neurológica ou seja lá que mistério é esse, se recusam a perder a verdade de sua percepção diferente da realidade? Nem sempre é uma questão de escolher a pílula azul ou vermelha.

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