ATRIZ

Comecei a participar de um projeto de intercâmbio de técnicas com um diretor de teatro, ator, Antropólogo Colombiano. E lembrei deste momento de de minha busca:
Viajei para Porto Alegre (RS), para aprofundar meu treinamento em Dança Clássica indiana e andando pelas ruas de Porto Alegre, parei para assistir uma apresentação de teatro de Rua. Me informei e foi fácil encontrar a sede deles, o grupo era e é muito conhecido. A sede deles tinha uma estrutura incrível. Um espaço que tinha uma sala de costura e figurinos, naquela época eles já filmavam os trabalhos e oficinas, um teatro. Comecei a estudar numa segunda-feira. Todas as oficinas gratuitas. Terça-feira tinha acrobacia, perna de pau, treinamento corporal e aulas teóricas. O primeiro livro que eu ganhei foi o "Teatro e o seu duplo" do Artaud. Comecei com o O primeiro espetáculo deles que eu assisti que foi o" Ostal", o público era recebido numa reprodução da sala de espera de um.hospital, nós recebíamos senhas. Individualmente éramos chamados através das senhas. Entrei na primeira sala e um enfermeiro, de máscara com uma lanterna me puxou pelo braço apressadamente, num corredor branco, cheirando a naftalina, essa experiência já me tirou do cotidiano. Ele abria uma sala, e quando eu entrei o enfermeiro tranca a porta e vai buscar outra pessoa. No Interior da sala, tinha uma mulher numa cama, sendo medicada a cada minuto, a ação se repetia sem parar. Quando todos estavam na sala. O enfermeiro trancou a porta. Algumas pessoas começaram a ficar com medo, e de repente abre um alçapão no teto e desce um casal nu, pessoas gritaram assustadas, outras queriam sair da sala.Senti muito medo e todos nós estávamos vivendo aquela experiência de estranhamento dentro de um hospício. Realmente uma experiência única e perturbadora. No final do espetáculo, ficou aquele silêncio, ninguém conseguia aplaudir. Aconteceu um abraço ali, ficamos conversando, ficou tão mágico, tão humano.Durante dois anos eu estudei em mim, esta tentativa de viver este "teatro da crueldade ", onde cada treinamento era um rito, onde eu buscava saber onde tinha " enxofre ".Assisti também Antigona, outra montagem deles muito gigante de humanidade. Eu entendi o teatro construído para permitir que a verdade possa exalar no corpo. Esta experiência de buscar o rito, a manifestação da imagem, do onírico em detrimento do "textocentrismo". Era uma atmosfera de sonhos, que se revelava. Tudo isso aliado ao meu treinamento de dança Clássica Índiana. Quando eu voltei para Brasília estava no meio desta associação de dançarina- intérprete- criadora. Tudo aquilo me afetou muito, um conceito que foi levado até as vísceras por este grupo, eles criaram um método para recriar este campo energético para o ator ser um manifesto, um atuador( eles não se consideravam atores e sim uma tribo de atuadores). Um teatro de vivência no corpo que gerava transcendência. Até hoje como dançarina-atriz eu me sinto neste processo de troca e co-criação de mim mesma.

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