Ecologia da alma

Mesmo que você não perceba, sua mente e seu corpo percebem e reagem a qualquer manifestação exterior. Até aí, nada de novo. E na corrida tresloucada que rege nossas vidas, a percepção do espaço que nos rodeia quase sempre nos passa despercebida. Se o óbvio não é percebido, como poderemos notar verdadeiramente as sutilezas? Como viver a plenitude dos momentos, a beleza da natureza e das pessoas? A nossa própria beleza? Como ser mais natural e equilibrado? Nada místico nem compreensível só para alguns “iluminados” ou “iniciados”. Não, nada disso. Me refiro aos detalhes do nosso cotidiano, que “olhamos” mas não “vemos” nem “vivemos”. O foco de nossa atenção está direcionado quase sempre para o trabalho, as tarefas diárias, a “obrigação”. A mídia nos “bombardeia” com notícias que contrariam a tranquilidade. São informações que pertubam: crimes, desastres, catástrofes, corrupção e outras barbaridades inconcebíveis. O homem do século XXI, isolado, mas globalizado em frente ao computador, sufocado pelo lixo e poluição das metrópoles congestionadas, contraria cada vez mais a natureza, o óbvio. Semeia, colhe hoje e colherá amanhã o inimaginável. C. Por isso, é urgente entender o óbvio. Compreender os “sinais” mais simples da natureza é imperioso. Nossos corpos e mentes precisam (re)descobrir a harmonia que existe em nós mesmos. poesia corpórea – Essa é minha principal busca na vida e, em cena, o convite que faço a todos por meio da investigação dos princípios do Bharatanatyam, estilo de dança clássica indiana. Vamos perceber – garanto que não é difícil – a relação da metafísica dos gestos com a natureza. Vivenciemos a beleza dos Hastas (gestos das mãos) que significam flores e animais. Gestos codificados e sistematizados há milênios, que simbolizam a natureza humana e dos deuses. O convite se estende à pesquisa sobre os elementos da natureza e a construção simbólica de uma gestualidade integrada ao divino de cada um. O exercício de não ser “embalsamado” pelo vul-gar, dançar o Apolíneo e o Dionisíaco. Integrar o espírito, ser todo, completo, único e verdadeiro. É possível e prazeroso criar o próprio método de análise – e praticar – uma coreografia corpórea baseada nas árvores, paisagens, elementos da natureza (água, terra, fogo, ar) ou nas estações do ano – os ciclos. É saudável elaborar um vocabulário simbólico para o corpo. Talvez, negar o óbvio. Podemos e devemos estimular – vivenciar – nossa energia individual, corporificando-a e conser-vando-a qualquer que seja a intenção. O entendimento do todo explica o uso de determinada ges-tualidade ou dança. A energia é pessoal, vista sob determinada perspectiva e concretizada por ritmo próprio. Geometria sagrada e proporção áurea na dança: danças menos lineares. Tridimensionali-dade, reconstrução de fluxos e refluxos. Deslocamentos energéticos baseados em padrões da natu-reza. As propriedades matemáticas das espirais. A importânica do assimétrico. Uma oportunidade de equilíbrio que podemos oferecer a nós mesmos é a criação de uma dança pessoal, onde cada um de nós possa manifestar seu próprio vocabulário gestual e simbólico. Sua própria dramaturgia e verdade na dança da vida. A natureza é um grande palco. Entre na dança!

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