As oposições ou a tridimensionalidade

Ainda bem que minha percepção da realidade não é linear, se não como dançaria o inusitado, as oposições ou a tridimensionalidade? Mas eu tive a sorte de sobreviver sendo esquisita e de gostar de ser como sou, mesmo sabendo que muitas vezes ser sutil e cultivar poesia num mundo que exige funcionalidade o tempo todo é um ato de bravura. O ideal mesmo é fazer como aquela sabedoria japonesa do vaso que quando quebra é colado com um esmalte dourado, porque o defeito é uma parte inseparável da história do objeto ou da pessoa, apesar de superado, eles precisam ser aceitos e não escondidos. Como dizia o mestre da psicanálise Jung, precisamos acolher a nossa sobra e a nossa luz. Lembrei da diva do Jazz,Billie Holiday( 1915-1959) cantando Strang fruit uma canção que narra o absurdo que eram os linchamentos dos negros nos Estados Unidos, eles eram mortos e pendurados em árvores com a metáfora do fruto estranho. Esta música teve um papel importante na denúncia de uma ação que era mero entretenimento e uma forma de dizer ao negro que mesmo se ele tentasse lutar ele deveria saber qual era o seu lugar. Mas a imagem que está na minha mente é dela em 1939, cantando uma música proibida, que ela deixava para cantar no final do show, com uma luz negra,iluminando o seu rosto, com a sua Gardênia atrás da orelha, com os seus cabelos de moldura. Relatos de quem teve o privilégio de vê-la é que no final não havia uma única alma branca ou negra que não se sentia tocada ,era um silêncio seguido pelo som de mil pessoas suspirando. Isto é o que uma atmosfera pode fazer com a nossa percepção. Foto- Franca Vilarinho

Comentários