PERDER E ACHAR

Hoje fui caminhar, andei muito pensando na minha vida. Fim de tarde, as ruas vazias, eu e a minha amiga inseparável, a música. Andei tanto que entrei numa rua desconhecida, e comecei a olhar com estranhamento sobre o que deveria ser familiar. Percebi que eu estava além de perdida nos meus pensamentos, perdida no caminho, eu não sabia voltar para casa. Sorri sozinha da minha loucura de não reconhecer o lugar onde moro, meu sentimento de pertencimento escapou das minhas mãos. Eu adorei, não tinha ninguém para perguntar, eu me senti estrangeira tentando agarrar o vazio diante da vertigem e da derrapagem. Num certo momento lembrei de um curso que fiz cujo a premissa era uma frase do filósofo Alemão Nietzsche, sobre como andar na corda bamba e se manter equilibrado diante do abismo.Olhei para a minha presença vulnerável que a incerteza inside. Tudo certo, sabedoria sempre, mas ele o vazio estava lá sussurrando baixinho submerso no meio do calor e do concreto. E tudo se processou de modo torto, como em quase tudo na minha Vida. Mas o que parece torto se revela como o supra sumo da nossa humanidade e se desvela na arte que é o nosso parto, o nosso parimento diário de nós mesmas. Pode ser que o vazio que ainda não alcancei seja o caminho e o método mais presente dialogando com o sagrado da vida me dizendo sim. O princípio do não dito, que se faz voz e memória do meu corpo que se transforma na minha matéria prima e principalmente em cura e colo para mim...Até aquilo que parece esquecido não morre para o corpo e se manifesta através dele. No entanto, lembrei do meu celular, do Uber, do GPS, o tempo voltou. Eu poderia voltar, me encontrei novamente. Foi tão rápido perceber que foi um átmo entre me perder e me achar, meu coração nem sentiu medo. Certezas demais, roubam surpresas. Uma certeza que não tenho é sobre como caminhará a humanidade e como vamos voltar a vibrar com a loucura da lucidez apontando novos caminhos para a preservação da vida. " E o que me importa é não estar vencido. Minha vida, meus mortos, meus caminhos tortos, meu sangue latino, minh'alma cativa."

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