ANTÍGONA

Sobre a experiência da necessidade de potência percebia sempre que era através da experiência que ela se revelava em todo o seu esplendor. Toda experiência sensorial começa no corpo o nosso reservatório de prazer e dor. Experimentei recentemente a experiência do não dito no corpo, na emoção que não pôde ser extravasada. Estou estudando Antígona para uma montagem de solo de dança. É sobre a injustiça, é quando suas convicções e crenças mais profundas não estão de acordo com as leis impostas pelo poder. Está tragédia grega gira em torno de Antígona, que decide conceder honras fúnebres a Polinice, seu irmão, contrariando as ordens do rei Creonte que havia decidido que o corpo do jovem deveria permanecer insepulto e exposto aos animais, por conta de uma rebelião que ele liderou contra seu irmão Etéocles na disputa pelo poder. Curiosamente, o resultado dessa batalha é um múltiplo fratricídio. Presa durante a execução do plano, Antígona é condenada a morte, incitando a indignação do povo. Temendo as profecias do cego Tirésias, se a execução seguisse adiante, Creonte decide voltar atrás, mas já é tarde: Antigona foi executada, acarretando trágicas consequências. Uma mulher sem exércitos, partidos e aliados contra a tirania.Mas o recorte que faço aqui é sobre a nossa necessidade de viver o que por alguma razão não se encontra espaço para ser experimentado e vivido.Antigona vai até o fim de sua experiência até a morte, uma vida sem levar ao limite o que se precisa viver não se basta. Mas como sentir saudade do não vivido? Existe a possibilidade de racionalizar a vida em pequenas frações de desejo, separando em gavetas o que será bom e o que será deletério? A vida não vivida pode estar contida na vida que se escolheu viver. As nossas quimeras podem ser deletérias e a flecha que lança e corta no espaço no arrebatamento da uma experiência que pode ser vivida só na imaginação, como numa obra de arte em que se transforma no espaço interno do outro o não dito, muitas vezes a arte se revela através da experiência do outro. Uma troca simbólica que nos salva de nós mesmos e nos eleva para uma experiência não vivida que toca e nos aproxima do humano. No ponto de vista da escolha da alma de não se viver lembrei de um provérbio Árabe: " A árvore quando está sendo cortada, observa com tristeza que o cabo do machado é de madeira."

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