BABEl

Estava sentada nua praça observando a lua cheia. Sentado no banco ao lado havia um rapaz lendo.De repente aparece outro rapaz e ele se comunicou comigo através da linguagem de sinais,as libras, e me ofereceu um calendário e me pediu uma contribuição.Em seguida ele vai em direção ao rapaz do outro banco que estava lendo, ele interrompeu sua leitura e para a minha surpresa ele respondeu com a mesma linguagem gestual dos deficientes auditivos. Fiquei observando e para minha surpresa, os dois se reconheceram na igualdade da diferença e eu senti a emoção dos dois conversando com o corpo e foi lindo, o reconhecimento de si mesmo no outro_ você me intende por que se parece comigo. Vi um abraço longo que brotou dos dois.Me deu vontade de saltar do banco imediatamente e abraça_los num abraço coletivo, mas respeitei o momento deles. Me emocionou perceber que apesar desta Babel que se transformou o nosso mundo, a diferença foi celebrada e aceita,e eu fiquei ali diante da minha diferença mesmo sabendo que sempre encontraremos na vida humanidade, quando se busca verdadeiramente. É saber que somos feitos do mesmo tecido, mesmo sendo diferentes. Foi lindo a despedida deles, os dois com as mãos no coração. Ultimamente estou cansada da palavra solta sem lastro e profundidade, a palavra que distorce e provoca ódio disfarçada de moralismo. Os Gestos podem ser usados para comunicar e dirimir a distância . Realmente uma palavra pode ser fruto do amor e fonte de ideias, mas neste momento eu sinto que a cegueira que o escritor José Saramago (1922-2010) descreveu no seu livro e piorou,com a nossa surdez," eles estão surdos". Nossa civilização está assim, um mundo falante e cheio do outro.O escritor Rubens Alves(1933-2014) já nos falou sobre a necessidade da escultatória, precisamos aprender novamente sobre a qualidade da escuta. Continuei observando este encontro e agradeci por perceber que é possível, mesmo com toda a tentativa de engarrafar a verdade a beleza da resistência do espírito humano que vai encontrar uma forma caminhando junto, mas respeitando o seu semelhante. Eu também adotei uma linguagem gestual símbólica que raríssimas pessoas compreendem, entretanto ela comunica com a alma. Eu acredito mesmo que o corpo preso e contido é uma forma de opressão,o gesto liberta e trás afeto e alegria. O ideal realmente é olhar sem o julgamento da mente. O corpo pode ser um texto e a nossa voz pode dançar com as palavras em direção ao outro. Crédito da foto_ Wagner Almeida

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