DANÇA ESPONTÂNEA

Holf Gelewiski (1930/1988), alemão, dançarino e coreógrafo, era um homem que buscava em si mesmo sua força criativa. Quando entrou em contato com Sri Arobindo, na Índia, construiu uma metodologia de ensino cujo principal objetivo era incluir o corpo como o grande caminho para o ser humano expressar os potenciais adormecidos e automatizados por uma civilização que nega o corpo e o associa a pecado. Sua proposta pedagógica inclui o corpo e sua totalidade. Percebi e senti profundamente o efeito desta metodologia em recente curso de aperfeiçoamento do qual participei (“Dança Espontânea”, aqui em Brasília). Durante as aulas ministradas por duas ex-alunas dele, Rosa e Angelita, a mim foi dada a oportunidade de entender, por meio de uma descrição precisa, o caminho da energia percorrida no corpo; os deslocamentos energéticos, o efeito e a relação do movimento no espaço. Nada místico, misterioso para poucos “escolhidos” ou “iniciados”. Na verdade, uma abordagem que democratiza e amplia o conceito de criatividade. Absolutas possibilidades de se obter perfeita relação entre pensamento, ação e transcedência. A energia que nos foi apresentada – e cada um experimentou em si mesmo o deslumbramento de estar totalmente no “aqui e agora” – levou-nos à consciência de nossa própria presença. O despertar para uma folha que caía de uma árvore, o sutil andar de um gato que habitava o espaço no qual estudávamos. Tudo revelou-se mais importante e integrado através da simplicidade e, paradoxalmente, da complexidade. Preenchidos de sentido, nossos movimentos tornaram-se livres, sem a mente a nos “empacotar” dentro de um “arquivo registrado” pelo corpo. Lugares nunca antes visitados. Um benéfico salto para o desconhecido. Os movimentos espontâneos deveriam ser (sempre) naturais. Como andar, respirar ou dormir. Ações que, quase sempre, executamos sem muita consciência. Para o movimento brotar mais espontâneo, orgânico e verdadeiro, quanto mais consciência e intensidade, mais presença do ser. É preciso – e urgente – escutar o corpo. Seguir a intuição vivenciando a intensidade da vida. A descoberta da força e da delicadeza. Ao final do treinamento, uma aluna, espontaneamente se deslocou em direção a uma das professoras. O movimento, foi compreendido por ela como “uma bênção”, numa reverência à mestra. Quando nossa colega nos relatou sua experiência, Angelita, a professora, nos deu uma resposta linda: “Quando você fizer uma reverência a alguém, se olhe no espelho: é você. Tudo parte de você. Desconfie de alguém que recebe uma reverência e se apropria dela”. Este pensamento levou-me a refletir (repito) sobre a simplicidade – e paradoxalmente a complexidade – de que todos nós somos “deuses” quando expressamos a nossa totalidade. Para quem quiser pesquisar alguns princípios abordados na aula: VIDA & MOVIMENTO Movimento Latente/Atual Movimento Parcial Definição do Movimento Presentificação das Situações Presença & Integração Intensidade/Força/Suave/Delicada Espaco & Direção Tempo - Tragetória Ritmo - Ciclos Frase Musical Pulsação Concentração Respiração & Deslocamentos Energéticos Educação integral e a abolição das fronteiras na arte, música, dança e artes visuais como ferramentas para ampliar as possibilidades criativas.

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