ATMO

Hoje fiz uma apresentação de dança para os funcionários de uma creche. Muitos funcionários, teatro lotado. Depois da apresentação, abracei uma grande amiga, a Bete Pinheiro que inclusive foi a convite dela que fiz a performance de dança. Paramos para tirar uma foto juntas e no instante em que a foto estava acontecendo, chega correndo uma mulher saltitante de felicidade por me ver e me abraçava feliz.Eu fiquei até sem graça por que levei um tempinho para processar e lembrar dela.E imediatamente ela começou a nos contar sobre o nosso encontro e lembrei na hora: Quando eu fazia Artes Cênicas na Faculdade Dulcina de Moraes eu era modelo vivo, posava nua para os estudantes de artes visuais. No primeiro dia da aula de Anatomia da professora Tsuruko, eu estava posando na aula e de repente entra na sala uma aluna atrasada, e quando ela me viu nua diante dos alunos, saiu da sala imediatamente assustada. Na nossa época a nudez não era balbúrdia,fazia parte do processo de aprendizado de artes. A aula seguiu normalmente, mas a interrogação era geral e ganhou teorias incessantes na faculdade, afinal como alguém vai fazer artes se tem problemas com a nudez? Eu nunca perguntei a ela o motivo, só fiquei um tempo pensando no impacto que causei nela e se ela não sabia que Leonardo da Vince dissecava até cadáver para dominar totalmente a forma humana. E seguimos nossa vida. Interessante é que ela nos contou no meio das nossas gargalhadas o motivo da sua saída apavorada da aula,é que ela era atrapalhada e tinha pensado que estava entrando sala errada, era simples assim. Fiquei pensando em como um encontro que não durou dez minutos acabou marcando nossas vidas para sempre e como num atmo, numa pequena dobra do tempo tudo pode acontecer e tecer novos rumos nos encontros na vida. O tempo brincou comigo e se manifestou na relatividade inusitada de um momento. E na nossa despedida ela me contou: -"E pensar que hoje eu sou dona desta creche."

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