A ORQUESTRA INVISÍVEL

O intercâmbio de técnicas e conteúdos e ideias são combustíveis incríveis para mim, me faz me sentir viva.Estava com amigos falando do efeito sinestésico que busco no meu corpo e do rito. Começamos a conversar sobre o vazio também e sobre a desmaterialização da arte e o que é efêmero. Nesse diálogo incessante dois amigos me falaram do artista Ives Klin( 1928-1962) ele meditava, fazia judô, estudava alquimia e tocava piano numa banda de jazz, investigava a levitação. Ele experimentou basicamente de tudo, da fotografia,literatura, enfim, Já me apaixonei por ele só por isso.por que sou fascinada por práticas sinestésicas que podem provocar sensações do corpo, criar leveza e potência. Tudo a ver comigo, uma arte que não visa somente a contemplação e observação, ou seja a arte é um convite para se integrar e sentir a energia cósmica, seria também um mergulho no vazio, um efeito semelhante ao Nirvana ou na Dança Clássica Indiana, Rasa ou o efeito de deleite estético, sentimentos, sensações e ampliação da consciência no público, um estado de hipnose coletiva onde o pensamento está em outra camada sensorial e flui livremente. Mas o que me chamou atenção neste artista foram duas obras, a primeira foi uma exposição de obras invisíveis em 1958,três mil pessoas apareceram na galeria para ver uma exposição de nada, mas preenchida por uma "sensibilidade pictórica imaterial", o coquetel era uma bebida desenvolvida por ele na cor azul que fazia as pessoas urinarem na cor azul, inclusive ele criou uma cor azul com um alquimista, que foi patenteada e que não foi ou ainda não é reproduzida, acredito que intendi assim.O efeito foi incrível, as obras vendidas teriam que ser pagas com folhas de ouro que seriam lançadas no Rio Sena na França, e um ritual onde se queimava o recibo da compra, para confirmar que a obra realmente não existiu.Ele pode ter sido o precursor da performance.Sobre a orquestra invisível é sobre o efeito da música, era uma orquestra formada para tocar uma única nota.É sobre uma obra dele intitulada antropometria, cujo os corpos eram pincéis humanos e enquanto a performance acontecia um grupo de músicos tocava a sinfonia monótona que era um único acorde de vinte minutos alternados com vinte minutos de silêncio. Mas o que me fascinou profundamente foi uma fotografia da sua obra o salto no vazio. Sobre o vazio de cada um, ou sobre nossa incerteza do sentido da vida.Na dança clássica Indiana tem a posição das pernas que se chama Samapada, é para ser iniciada antes do início da dança ou treinamento e Sama significa Nada, o zero. O conceito do vazio foi criado pelos hindus, um conceito que tem um registro do nada no corpo milenar. Fiquei com uma imagem quando observo o céu de Brasília, ele lançou 1001 balões na cor azul Klin no céu de paris, é efêmero, mas só o conceito já ficou eterno dentro de mim.

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