A MEDICINA DO URSO

Fiz uma imersão na medicina do urso através do ritual da ayuasca. Tomei o chá com a intenção de caminhar para o silêncio. No meio de tanto barulho, estava no meio do mato com um grupo de pessoas dispostas a mergulharem na sua sibéria, naquele "inverno da alma". Era o corpo, o veículo desta viagem. Buscamos a sabedoria dos ursos, que durante o inverno hibernam, com recursos do próprio corpo durante o inverno.Os ursos são solitários exceto na época do acasalamento , as ursas cuidam dos filhotes na hibernação e depois de dois anos de vida são lançados para a vida e precisam construir seus abrigos e buscar alimentos. Achei muito interessante o nosso propósito de mergulhar na nossa solidão e na caminhada que precisava ser feita por cada um, mesmo juntos compartilhando a mesma experiência, com a certeza de que vai ser individual, viajantes solitários unidos e dando força para a coragem. Quando eu ouvia falar em "inverno da alma" e entrar na caverna, imaginava que a minha sombra provavelmente iria se manisfestar, imaginei sombras dançando dentro de mim e dores sem fim.Mas eu decidi viver, mergulhar em mim mesma este experimento e pagar para ver. No mesmo instante que deitei depois da ingestão do chá, me vesti de silêncio, meu corpo ficou estático. Eu sou imagética, mas fui surpreendida com a ausência das imagens. Era uma voz interna dialogando comigo, meu corpo estava conversando comigo. Estranho que comecei a sentir no corpo uma limpeza nas minhas células, eu sentia minha vibração, senti a presença dos meus pais, regredi para a minha infância, senti minha criança consolada e amada. Eu percebi uma viagem muito profunda na minha luz.Foi um presente que dei a mim mesma, por que nesta minha existência, como os Ursos além de saber que meu caminhar era sozinha, sempre busquei através de mim mesma, meus meios de seguir minha jornada. Senti uma profunda alegria de saber que sobrevivi. Eu sei que a sombra está comigo e danço com ela, mas encontrar minha luz me encheu de esperança, eu vi minha dança no meu programa genético e percebi que vivo num diálogo simbiótico com a dança e o meu mundo. Depois de muito tempo dentro de mim, levantei e fui dançar com as árvores de frente para a lua, com meu corpo vivo, sem palavras celebrando o silêncio. Não tenho mais medo de mim mesma.A palavra tomou outro sentido, pode ser um pedaço de vida que emana de mim mesma, pode ser que quando falo sem consciência do simbolo ou do efeito da palavra, em mim um pouco de energia vital diminui. Meu prana ou energia vital pode evaporar e o corpo é o nosso mestre. Se a palavra é um simbolo como aprendi com a civilização tolteka, a comunicação pode ser infinitamente sutil. Me encontrei totalmente no meu corpo, deitei perto da fogueira e deixei que o a fogueira me aquecesse durante a madrugada. Este foi o silêncio mais transformador da minha vida. Depois de muitos invernos tenebrosos e barulhentos este inverno me trouxe a luz que habitava em mim esquecida. Como disse o o escritor, filósofo, dramaturgo Albert Camus (1913-1060)"E no meio de um inverno eu finalmente aprendi que havia dentro de mim" um verão invencível.

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