INFINITUDE

Sonhei que caminhava muito, era um lugar com uma atmosfera nebulosa, sem nenhum registro ou referência de onde estava, o que eu sei é que comecei a perceber que tudo o que via tinha a função de ser eterno, observei a presença do sagrado.Senti a dimensão da minha infinitude, mas o fato curioso neste sonho,era a constatação de não ter a presença de nenhum ser humano e no entanto, dialogava com alguém, será que era comigo mesma? Eu sempre me frustrei com a impermanência das coisas e ultimamente penso bastante na atemporalidade e sobre o que é efêmero. Minha matéria- prima, o lugar de onde me expresso na vida se desmaterializa diante de quem me vê, eu me danço e me desmaterializo à cada performance. Os minutos que antecedem minha apresentação sinto que vou morrer e quando me lanço no espaço e me desenho no ar preencho todos os meus espaços vazios, mas quando executo meu último gesto volto a sentir que voltei à estaca zero, uma nova vida precisa ressuscitar dentro de mim. Eu sinto que carrego a ancestralidade que reside na minha alma e ao mesmo tempo estou submersa na contemporaneidade que me impede de me engessar numa tradição sem dar ouvidos aos meus anseios. Ultimamente estou debruçada na raiz do ritmo em como dançar com os olhos dentro de uma tala ( ritmo) para ter o privilégio de dançar uma raga( melodia). Na estrutura metodológica da dança clássica Indiana Bharatanatyam, para se dançar o Allaripu a primeira peça coreográfica é necessário dominar o repertório de Adavus, a dançarina precisa do treinamento para obter o domínio completo da sequência de Adavus( Palavra que tem origem dravidiana, Ada ignifica Passo, Shistu Disciplina) são divididos em dez grupos com subdivisões de padrões ) e as hastas( gestos das mãos ), olhos e toda a engenharia simbólica do corpo.A Dança, música e teatro São linguagens simultâneas que dialogam numa única manifestação. Numa escola tradicional de dança clássica Indiana se estuda música simultaneamente.Na metodologia de ensino desta prática,um Guru na dança compõe as coreografias ao mesmo tempo que compõe a música, cada gesto é uma nota músical e quando a dançarina domina técnica, gesto, ritmo e melodia e a abhynaya(teatro) ela recebe do Guru a sua composição coreográfica e a sua trilha sonora que ela precisa gravar num estúdio sua expressão, sua sinfonia e este pertencimento fruto de anos de treinamento e estudo é uma forma de se fazer infinita. Ultimamente percebo que meus instantes de infinitude acontecem quando eu estou criando. Quando ofereço minha dança não sou eu me pertencendo, sou eu pertencendo á alma que dança comigo quando me vê me alimento desta simbiose mesmo sabendo que é efêmera, neste caso posso ser infinita na alma de alguém, quando a experiência de me ver dançando fica na memória do coração.

Comentários