O CORPO E A DITADURA

Participei este ano do Primeiro encontro Internacional de práticas somáticas e dança no Instituto Federal De Brasília. O significado de Soma ou tudo relacionado ao corpo neste contexto aqui, vem do latim (Summa) é a junção de coisas, acrescentar. Ligando os pontos nós somos o resultado de nossas experiências e somatizamos toda a relação com a vida e o todo que nos cerca dentro e fora de nós. Infelizmente historicamente o corpo no ocidente foi negado e separado da mente e até considerado pecado. Nosso corpo registra nossas emoções e tem memória, portanto não é possivel ser neutro nesta existência.Nosso corpo é a nossa morada, nosso templo e o reservatório de prazer e dor.Não é por acaso que quando acumulamos muitas emoções ruins ele se transforma em doença no corpo ou na alma. Infelizmente esta matéria corpo não foi adotada como prioridade na educação dos sentidos e da percepção de si mesmo. Quando vivenciamos no corpo algum trabalho físico,não falo de nada mecânico, mas é melhor que nada, aprendemos a encontrar nosso limite e o do outro, sentimos no corpo e a presença do estranho não é uma ameaça. Mas o relato que quero registrar aqui é tardio, esse encontro aconteceu em março, mas me marcou profundamente, mais uma prova de que o meu corpo registrou estas memórias e arquivou, se eu fechar os olhos posso até acessar os sentimentos de desconforto desta experiência que vou narrar a seguir.Fomos para um teatro, dançarinos e dançarinas e todo mundo que busca as questões do corpo como prática, pesquisa e criação, destacam-se só exemplificar algumas técnicas da prática somática temos a técnica do Klaus Vianna, Antiginática, Eutonia, ginástica Holística e o método Pilates. Mas vamos aos fatos.Começamos com a fala, ou relato de experiências das Bailarinas de vários países, predominando a América Latina. Todas da América Latina falaram do impacto da ditadura no corpo em seus respectivos países.De repente me senti desconfortável, com vergonha até,nenhum de nós Brasileiros presentes tínhamos nada a relatar sobre um período tão cruel da nossa história e muito menos o efeito da ditadura nos nossos corpos. E eu nem estou falando da crueldade do Estado com os corpos dos cidadãos pensantes que discordavam do regime e lutavam por um pais democrático e igualitário. Seus corpos foram queimados, torturados com requinte de crueldade, muitos morreram de tanta dor ou foram assassinados. Fiquei realmente foi triste de perceber o quanto esta memória foi instituída e a lobotomia de aniquilamento do pensamento foi estrategicamente calculada, mataram os cérebros mais brilhantes do país, exilaram e o maior golpe de todos, retiraram a experiência como prática do conhecimento, e assim foram como Disse Darcy Ribeiro, articuladores de um projeto de afundar a educação Brasileira, que foi se alienando a cada geração. Só agora entendi o impacto da ditadura nos nossos corpos e percepção da vida. Quando vejo uma parte do Brasil pedindo a intervenção Militar ou a Ditadura fico realmente atônica do quanto um regime pode alterar a realidade de um pais.Hoje vejo ódio, intolerância com o diferente e principalmente um culto ao dinheiro e ao status independente de viver num regime fascista e desumano. Entender dói muito e meu coração vai doer ainda mais se alguém fizer algum comentário agressivo aqui no meu blog, feito com tanto amor e carinho. Não faça isso. Por amor. Todas as bailarinas falaram em políticas públicas para nunca mais a ditadura voltar em seus países e nós o que estamos fazendo? Estamos na contramão da história. Meu Deus eu não quero acordar e me sentir em 1964. Por outro lado eu sonhei que estava olhando para o céu e passa na minha frente um gnomo de gorro vermelho em cima de uma almofada de cetim azul. Eu achei tão mágico. E eu lembrei que neste encontro vivenciei uma coisa linda. Estávamos fazendo um trabalho corporal com uma pesquisadora/Doutora/professora da Universidade Federal da Bahia, Ciane Fernades, ela só para falar um pouquinho é Mestra e PHD em artes e Humanidades,pós graduada em Artes Cênicas pela Nova York University e a mulher é muito respeitada e cultuada gente.Ela tem o meu respeito também porque estudou e faz referência em sua pesquisa do estilo que pesquiso o Bharatanatyam estilo de dança clássica Indiana. Cheguei sem a menor chance de participar e fiquei com uma turma que não estava nem na lista de espera. Firmei o pé e fiquei assim mesmo. Muita gente desistiu e para a minha surpresa ela liberou para todo mundo participar. Teve um momento na aula de improvisação e eu fiz com um bailarino acho que Alemão, incrível que foi tão profunda e verdadeira que chamou a atenção dos participantes. No final da aula quando fomos dividir nosso aprendizado na aula,eu não falei que era estudante de Bharatanatyam e só agradeci. Ela me olhou e falou, você é bailarina de dança clássica Indiana, e eu atônita disse sou sim! E ela me disse: te reconheci pelos teus pés. Cheguei em casa e chorei de emoção, ser reconhecida pelos pés por uma mestra foi a mesma coisa que chegar no céu.

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