" A ARTE É UM VEÍCULO" -DANÇA CLÁSSICA INDIANA

Devemos ao sábio Barata o Natya Shastra, o tratado das artes,da dança clássica Indiana, é um livro que contém o registro e a escrita da dança numa descrição extremamente precisa que até hoje é referência de estudo e pesquisa e preservação da da tradição. Esta dança é uma arte completa. Poesia corpórea nos movimentos das mãos, do rosto, da percussão dos pés.Gestualidade simbólica que inclui o figurino, os adavus com a sua percussão com os pés,as hastas ou os gestos simbólicos das mãos,a geometria sagrada numa dança que transforma o corpo numa escultura com ângulos que cortam o espaço em estruturas em infinitas combinações de gestos que podem narrar histórias ou não, mas que trazem um conteúdo expressivo de significados e beleza sublime.Os instrumentos musicais são pertinentes a cada estilo e a escultura em movimento transforma o corpo em arquitetura templária. A a música,a poesia e a metafísica, Dança e teatro são linguagens simultâneas, em uma única manifestação. Na dança clássica Indiana não existe o dilema entre dança e teatro. No Ocidente a renovação artística européia no século XIX tem ligação íntima com o encontro das culturas Ocidental-Oriental.Para citar alguns exemplos o teatro épico de Bertold Breht buscou inspiração nas tradições Orientais.Um dos conceitos de Brecht o efeito do distanciamento é baseado em reflexões sobre a ópera de Pequim.O teatro da crueldade de Antonin Artaud começou a surgir influenciado pela dança de Bali, na busca de um sentido poético essencial que aproxima o teatro à dimensão metafísica da vida. Outro grande encenador, Jerzy Grotowiski, partindo das idéias Artaudianas formulou o "teatro pobre", que coloca o ator no centro do processo criativo, onde a arte é um veículo, introduziu no treinamento corporal dos atores mantras e técnicas corpóreas baseadas no treinamento dos atores Orientais. E finalmente Eugênio Barba dá continuidade às idéias de Grotowiski .Ele parte para diversas parte do mundo, inclusive o Oriente em busca de conhecer suas tradições vivas e de onde parte a técnica para se acessar a organicidade do ator-dançarino para mais tarde sistematizar uma das maiores contribuições para o teatro Ocidental no teatro contemporâneo, a atropologia teatral .Sua pesquisa foi baseada na investigação do Kathakali, Odissi, ( estilos de dança clássica Indiana), dança Balinesa, Kabuki e até a capoeira , a tradição do obutoh( dança Japonesa) tendo sempre como foco o intercâmbio de técnicas , a sistematização da organicidade do ator-dançarino. Vale destacar Tasumi igigata e Kzuo Ono ( atores-dançarinos de butoh), que em diferentes períodos , aliam elementos de expressionismo Alemão e de outras vanguardas européias , esta trasnculturalidade, ou este diálogo de signos contribuiu para alargar as fronteiras da arte . Ariane Mnouchkine afirmou uma vez em uma entrevista que o teatro é Oriental, não podemos ser tão absolutos mas o teatro-dança Oriental e este diálogo foram fundamentais para se reiventar a arte inerente à cada cultura, por exemplo rever as noções de tempo e espaço , os gestos codificados e sistematizados, o registro, simbolismo e gestos dançados,a presença do ator-dançarino, a multisensorialidade o relativismo em relação ao cartesianismo, em que a experiência e a expressão se reúnem para dar sentido à condição humana, ignorando fronteiras , para facilitar a percepção do conhecimento e da compreenção do outro, através das diferenças.

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