O RESGATE DO INSTINTO

Uma imagem que ilustra o gesto preciso e preso dentro de um corpo é a da bailarina que dança presa a uma música dentro de uma caixinha de música. É poético e lírico mas não tem liberdade, é mecânico. Mesmo com a beleza que me comove ao abrir uma caixinha de música,sinto que é doce e me faz sonhar. Mas com o tempo me dá vontade de fechar a caixa, por que a mesmice do movimento da bailarina e da música me dá tédio. É isso que acontece quando abandonamos nossa identidade para se encaixar numa caixa de regras, nosso gesto contido fica preso a um lugar que não é permitido ser e viver o que se é. Uma forma de transgressão genuína é buscar no corpo o caminho do retorno de volta para casa,o nosso corpo. Senti que estava com o corpo ainda amortecido pela tristeza e eu precisava imprimir uma nova memória. Realizei um exercício numa aula de Biodança com a facilitadora Mônica Filizola, e o exercício proposto por ela era justamente ter como ponto de partida um corpo fechado dentro das regras reflexo de uma ausência de força para romper padrões e procurar o novo. Interessante é que esse movimento de transgressão era individual mas tinha a força de uma grupo para apoiar o vôo. Nesta atmosfera profundamente afetuosa cruzei minhas fronteiras e saí daquela couraça triste e meu movimento foi ampliando e fui recuperando meu prazer, minha vontade de viver. Estava meio morta por dentro. E foi desta forma simples e afetuosa que mudei meu padrão vibratório e me encontrei comigo novamente. Em seguida sentamos no chão como num resgate, era para sentir o coração da tribo ancestral, todos aquecidos com o calor de nossas essências presentes, era como se tivesse uma fogueira e o espaço parecia uma caverna, e todos fomos soltando nossa voz primal cada um ecoando seu nome com a força do tribo repetindo e gravando no universo nosso desejo de ancorar nossas raízes, nossa força que vem da identidade, da nossa raiz ancestral. Realmente o criador da Biodança Rolando Toro nos deu uma ferramenta de crescimento que transgride através da força do humano, do resgate dos instintos e da verdade de cada um. São micro-revoluções individuais e coletivas em todo o mundo. Só através do afeto e do profundo respeito pelo que somos teremos a possibilidade de vivermos de acordo com a nossa natureza. Voltei para casa viva, com a minha natureza selvagem em pleno resgate, principalmente pela minha opção de sentir os cheiros, sabores, cores, dores e tocar o outro com meu gesto, alegrias e dores. A transformação através do afeto e da liberdade do gesto.

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