DUAS AMIGAS E A SABEDORIA DE UMA ÁRVORE

Encontrei com uma amiga no meio de uma paisagem e paramos para observar uma árvore. Depois de ficarmos um bom tempo observando seus galhos, ela me fala que sempre que ela quer pensar e se reinventar e criar caminhos novos,ela observa o caminho que cada galho da árvore cria para receber luz. E ficamos muito concentradas observando e identificando os galhos retorcidos e seus embaralhamentos cósmicos ligados entre si presos à árvore,recebendo luz e a soberania da árvore soberana regendo tudo, numa geometria sagrada e complexa, para os nossos olhos, pela quantidade de tramas e galhos em plena expansão e direções antagônicas. Para mim parecia passos de dança. Eu que sou amiga das árvores,que aprendi inclusive a caminhar partida ao meio com dignidade, levei mais essa para casa.Foi um momento muito sagrado duas mulheres diante de uma árvore, no meio da vegetação aprendendo lições com uma árvore.Afinal, o mundo anda tão óbvio, estão oferecendo tanto do mesmo, que a sensação é de que não temos mais saída para enfrentar o caos e a mesma rota do rebanho. Mas quem nasceu para ser ovelha negra,não segue caminhos já trilhados, sempre buscamos passos que estejam de acordo com a própria alma.Quando era mais nova li esta frase no livro do Carlos Castanheda, era um livro dos ensinamentos que ele recebeu de um velho índio, tomando Peyoti, um cogumelo, a lição era bem simples:escolha um caminho que tenha um coração. Só que na vida tudo está certo como dois e dois são cinco, como disse Roberto Carlos na música, e na minha vida entrei e saí de situações que não queria estar mesmo estando com o coração o corpo e a alma, o fato é que não faço caminhos que não me levam a me conhecer e ser uma pessoa melhor.Aprendi muito com a dança, por que nunca aceitei repetir passos e coreografias prontas, sempre criei meu próprios caminhos na dança e no teatro, mesmo tendo uma estética como referência e modelo, o fato de dançar inovando sempre tendo como ponto de partida uma tradição e cânones da dança clássica Indiana, me fiz fazendo uma dança autêntica, não por que é nova, trata-se de uma dança milenar, mas porque parte da minha identidade, da minha coragem e luta por ser eu mesma, foi submergindo do meu caos diário. O corpo ensina muito sobre como estamos dialogando com a vida.Inúmeras vezes fiz exercício de caminhar e só agora me olhei de forma diferente. Não sou mais a mesma, posso caminhar apesar dos obstáculos criados por mim ou pelas circunstâncias do instante vivido. Finalizamos nossa investigação, honrando aquela árvore caminhando como rainhas e abençoando nossos pés. Muitas pessoas escolhem caminhar por terras sagradas, montanhas, florestas para se encontrar ou se perder. Eu acredito no processo de caminhar para dentro de si mesmo, para encontrar luz, amor, verdade e o entendimento da própria caminhada,e dar significado à nossa presença no mundo. O meu mestre é o meu corpo. Lembrei de Heráclito,( 535 a.C. - 475 a.C.) filósofo pré-socrático, que no século VI A.C. dizia que não entramos duas vezes no mesmo rio. Não entramos duas vezes no mesmo rio,nem o rio é o mesmo,muito menos nós. Gosto muito desta frase:"A diferença do movimento intenso para o movimento extenso é que o movimento extenso é o movimento da matéria, é o movimento feito pelos corpos, que saem de um lugar para outro lugar. O movimento intenso é o movimento da alma. É o movimento da alma. Esse movimento intenso não se atualiza no corpo ― ele se expressa. - O que quer dizer expressão? Expressão quer dizer a existência de alguma coisa que está escondida, algo que está escondido e que, por algum sintoma, torna-se visível. Expressão é tornar visível o invisível.". Esta frase me explica que quanto mais damos voz nossa expressividade e voz no mundo, mais aprimoramos o caminho que escolhemos, para se ter uma identidade no meio do caos e nossa plenitude se revela quando nós encontramos nossa verdade . E fica melhor quando aceitamos o caos e brilhamos como estrelas dançantes, como dizia o filósofo Alemão Nietzche.

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