FESTIVAL DIONISIUS - NORA

Recentemente participei do festival Dionisius na serra Gaúcha. Esse festival é movido pelo rito praticado por nossos ancestrais,que é viver todo o processo da semeadura da uva, do plantio à colheita. Fiquei sabendo que a uva precisa ser podada até a sua quase morte,para renascer inteira até virar vinho. Isso estou resumindo de uma forma muito leiga, porque o facilitador e produtor de vinho Nenel, seu carinhoso apelido,ou Carlos Manoel Dias, o idealizador deste festival que nos encanta os olhos quando narra estas histórias para nós, que saímos de pontos diferentes do nosso planeta para vivermos este rito dentro de nossa alma buscadora. E cada um na poesia do encontro, se encontra consigo mesmo e se deixa morrer para o que não serve mais e ao mesmo tempo se transbordando de vida, amor e alegria, renasce para si mesmo. Morrer e nascer para seguir vivendo. Minhas experiências foram inúmeras e aos poucos vou fazer relatos sobre esta extraordinária maneira de crescer e buscar sabedoria. Hoje começo falando sobre Nora, uma grande facilitadora de Biodança. No festival temos vivências de Biodança e Nora no exercício que vou descrever estava participando como aluna.Somos mestres e aprendizes o tempo todo. Na imensidão do espaço vazio da sala, o exercício era para ficarmos parados na sala de olhos fechados e outras pessoas nos pegariam pelo braço, para nos conduzir pelo espaço. Quem era conduzido estava de olhos fechados. E quem era conduzido, não sabia quem era o condutor, e a única opção era confiar. Num certo momento, estava caminhando e vejo Nora, parada singela aguardando,inteira e confiante. Eu peguei sua mão e começamos a caminhar juntas, eu estava invisível para ela que estava de olhos fechados. Durante a caminhada fiquei observando sua bela expressão de leveza e fé na caminhada. De repente passamos por uma janela aberta, e o vento nos visitou! Fiquei sem fôlego quando vi Nora sentir cada segundo daquele vento suave e delicado lhe acariciando o rosto. E naquele momento eu percebi a beleza contida no caminhar que abraça o caminhante, ou como atravessar nossos desertos na vida, desfrutando do caminho. Esta é a nobreza da potência de um encontro,ele nem precisa de palavras, tampouco dos olhos, duas presenças caminhando no vazio espaço de uma sala, com a música e a doce certeza de que, caminhar pode ser o aprendizado e o destino vira um detalhe, por que quando estamos nutridos de amor tudo pode ser aprendizado. E floresce a certeza de que nunca estamos sozinhos, a pessoa certa e a situação certa aparece, quando confiamos na existência e principalmente viver passa a ser uma aventura interessante,onde a pressa de chegar termina, o destino vira detalhe, porque estamos muito felizes em pleno divertimento com o vento, com o sol, e com cada presente ofertado pela vida, em cada momento do nosso tempo por aqui. lembrei também de Nora, a personagem da peça de teatro do Ibsen, que se chama" Casa de bonecas", foi a primeira peça de teatro que atuei como atriz. A Nora da peça, abandona os filhos e marido e vai para a vida se construir como pessoa, e a última fala dela na peça é: " Meu dever, meu sagrado dever de agora em diante é comigo mesma." Não estou afirmando que viver também se precisa abandonar quem amamos, mas no contexto daquela personagem era o caminho dela. Esta é a beleza da vida, nosso caminho precisa ser construído por nós.

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