A ARTE DE PEDIR

Terminei de ler o livro da artista Maravilhosa Amanda Palmer, A arte de pedir. Neste livro ela narra sua busca como artista e como se descobriu como artista e ser humano. Ela nos conta no livro de uma forma tão sensível sobre toca uma ferida crucial para o artista e para qualquer ser humano, que é pedir. Saber pedir sem se sentir que toda a nossa dignidade vai embora. Ela começou esse processo de investigação quando era estudante de artes e virou estátua viva. Neste contexto, na rua vestida de noiva, em cima de um caixote e segurando uma flor nas mãos, ela se entregou ao seu ofício de se entregar ao universo e confiar no ser humano.Cada pessoa que passava no meio do cotidiano nu e crú e presenciava aquele ser inusitado, ela estava lá soberana no seu ato de se oferecer em uma bandeja de prata. Quando alguém parava e doava uma moeda, ela olhava profundamente para aquela pessoa e doava uma flor, naquele instante ela se conectava com aquele ser invisível e o tirava da sua invisibilidade, e devolvia a conexão daquela pessoa para a vida, dando para aquele ser anônimo na multidão o sentimento de pertencimento, ser olhado, visto, estar diante de uma presença e se sentir em plena conexão. Com o tempo ela foi percebendo que o que precisamos no ato de pedir é sermos dignos e merecedores, e que muitas vezes nos isolamos porque pedir pode nos deixar vulneráveis e frágeis.Mas na realidade Amanda é cantora e compositora e depois desta experiência incrível de descoberta, ela lança uma campanha de financiamento coletivo e consegue um milhão de dólares em doações, ela foi a precursora em usar esta ferramenta. Ela mostra no livro todos os sabores e dissabores de sua investigação e como o artista pode ser digno em sua jornada pedindo ajuda sem se sentir a pior pessoa do mundo.Ela também foi convidada para fazer palestra no TED sobre sua busca como artista mulher e ser humano. Amanda mostra também sua vulnerabilidade ao ser casada com Nel Gaiman o mestre dos quadrinhos, escritor milionário e a sua dificuldade de pedir ajuda para o seu marido,a pessoa mais íntima dela,enfim nossas contradições e nossos medos de sermos rejeitados por quem mais amamos. Saber pedir é um desafio, é desenvolver uma confiança na existência e acreditar que não estamos sozinhos e que quando deixamos o universo nos ajudar e criamos a confiança as pessoas certas aparecem e pedir passa a ser uma forma de viver o dar e receber da vida. Amanda sempre cumpriu com a reciprocidade e sempre se doa de alguma forma para retribuir cada sim que recebe.Ela nos conta que temos um dádiva , um dom e que isso não pode morrer conosco, que viver é dar e receber. No final do livro, Amanda revela sua dedicação a um grande amigo que tinha câncer e como se revelou através deste cuidado, cancelando inclusive uma turnê, e como todas as pessoas foram solidárias com ela.Fiquei pensando na minha batalha pessoal como artista e buscadora, me doar num palco é maravilhoso,mas quando vem a parte de pedir patrocínio para realizar minha arte com dignidade é complexo. Uma última que ela conta, para não entregar o livro inteiro, foi quando ela foi duramente criticada e odiada nas redes sociais por que fez uma poesia sobre um atentato terrorista. Ela ficou péssima por ser tão odiada, sendo que sua intenção foi boa. No dia do seu aniversário, ela estava arrasada e foi com o marido, fazer uma massagem, presente dele para ela.Ao se encontrar com a massagista, esta massagista, antes da massagem lhe confidenciou que ela a odiava e que tinha enviado uma mensagem com muito ódio e que sua mensagem tinha tanto ódio que ela tinha se sentido mal e tinha até sentido náusea ao reler. Amanda ouviu tudo e mesmo assim resolveu fazer a massagem. Ela recebia a massagem se entregando totalmente enquanto chorava muito. No final ela fica sabendo que a massagista era cantora e compositora também, e ao olhar novamente para ela viu uma mulher triste e frustrada e por alguma razão estava além, sem lutar por sua vocação. O diálogo das duas é incrível no final: A massagista fala:- você sabe receber e Amanda responde:- e você é boa em se doar.Amanda quando explica o porquê de sua campanha Kickstarter teve tanto sucesso, ela não fala em estratégias de markenting ou planos, ela fala na verdade de conexão humana e da importância de ser de verdade,ela expõe sua dores e dificuldades e no final sua experiência é um grande convite a confiar no ser humano e em nós mesmos,o prato fumegante da conexão humana.