Hoje estou celebrando minhas raízes.Aproveitei este domingo de páscoa para me visitar. Coloquei uma música na sala, olhei o horizonte e soltei o meu corpo deixando a melodia da música me guiar. Meu corpo foi criando formas harmonizadas e meus pés começaram a deslizar pelo chão.Eu senti uma profunda emoção e desejo de morar nesse corpo, que foi tão negado e castigado por mim. Foi um trabalho muito árduo de investigação de mim mesma e que está em plena construção.
Num certo momento senti vontade de ir até o meu quarto e observar o meu corpo, me olhar nos olhos. Sim eu já tenho dignidade para me encarar no espelho e me admirar. Mesmo dançando e tendo o corpo como princípio de aprendizado, tudo o que percebi hoje diante do espelho foi construído e ao mesmo tempo não tenho garantia nenhuma que este estado é permanente, afinal somos impermanência. Só que decidi desfrutar de minha companhia tendo a dança como parceira. Olhar meu corpo sendo minha única platéia, sendo absolutamente de mim mesma,com todas as minhas cicatrizes e dores a serem curadas. Minha honestidade latente e visceral de desejo ardente de fome de mim. Uma inconsequência e uma vontade de ampliar cada parte do meu corpo e sair por aí passeando como o vento. Eu descobri que ando voando com o corpo, antes só voava na mente. A mente era avoada e o corpo ainda era pesado.
Na dança a leveza é natural em mim, mas no cotidiano não era leve, sempre absorta em pensamentos e mergulhada no labirinto de minhas sombras. Mas chega um dia que a sabedoria nos visita e que o corpo começa a conversar com você, ou melhor comigo. Esta caminhada de sentir o meu corpo com intensidade eu devo à dança, porque sou incapaz de fazer alguma coisa sem alma. A primeira coisa que faço ao dançar é convidar a minha alma para dançar comigo, antes da técnica ou de qualquer protocolo. E ao poucos este espírito dançante transbordou na minha vida e sinto que estou no cotidiano mais presente. A presença é a verdadeira meditação, quando sou toda e inteira sinto que amplio a conexão com esferas cósmicas e sinto Deus dentro de mim. É nesse estado de bem aventurança que estou dançando, refletindo e ensinando dança. Provocar no outro o desejo de deixar a dança fazer morada, a vida ficando divertida e fazendo sentido e você se sentindo, fazendo parte do todo.É por isso que em cada aula minha eu sempre faço esta ponte com o oriente mágico, onírico das histórias mágicas e do simbolismo imerso.Nossa criança precisa ser alimentada,nutrida e aceita e a dança nos convida a jogar esta brincadeira transcendental. Sentar em roda igual criança e movimentar os olhos, experimentar fazer um giro no espaço e ficar tonta, cruzar os braços e pernas numa posição tridimensional e perder o juízo, não entender nada e visitar o caos da brincadeira de não saber as regras da brincadeira. Isso é leveza é fluidez. Ninguém vai me julgar se eu não dei uma pirueta para cair em quinta. Eu só deixei o meu corpo sentir nuances, cores diferentes, tons diferentes.Como na vida que é feita de instantes, pausas, intensidade, caos, ordem, emoção em profundidade. Eu estou comigo, dançando comigo e sentindo o olhar do horizonte.
Que o nosso corpo, mente e espírito estejam juntos em nosso processo de crescimento e evolução, afinal somos todos um. E tudo o que existe no universo tem dentro de mim e dentro de você.
No oriente se chama Leela a brincadeira de Deus.
Finalizo com este sábio o Osho:
"Você tem que viver no mundo, mas você precisa ter o mundo apenas como um grande teatro. Sou contra renunciar ao mundo.
Você não tem que fugir do mundo, você precisa viver nele, mas de uma maneira totalmente diferente.
Não o leve muito a sério, leve-o muito despreocupadamente, como uma piada cósmica.
Ele é uma piada cósmica.
No Oriente o chamamos de brincadeira de Deus. (Leela)
Você pode ser um rei no drama, mas você não leva isso a sério.
Se é uma brincadeira de Deus então somos apenas atores nela e ninguém leva a representação a sério.
Quando a cortina cai, você esquece tudo sobre ser um rei; isso não vai para sua cabeça.
Se você for rico, não deixe isso ir para sua cabeça, ou se você for pobre, não leve isso a sério. Estamos todos representando papéis; represente-os tão belamente quanto possível, porém lembre-se continuadamente que tudo isso é um jogo.
E quando a morte chegar, a última cortina cai.
Depois todos os atores desaparecem.
Todos eles desaparecem numa energia universal.
Se pudéssemos viver no mundo lembrando disso, estaríamos totalmente livres de toda miséria. Sofrimento é uma conseqüência de se levar as coisas a sério e alegria é uma conseqüência de se levar as coisas de maneira leve.
Leve a vida de modo divertido
Desfrute-a."
Osho em Meditações para a noite

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