SOMBRAS

Participei este fim de semana de uma oficina de teatro de sombra,com a Companhia de teatro Lumbra/ clube da sombra(RS), ocupação Funarte-Brasília. Primeiro o contato com o escuro, a sombra se esgueirando e chegando sorrateiramente.Eu entrei na caverna, fui fundo e caminhei na escuridão, até receber o convite de fazer amizade com ela: a sombra. O sombrista (é assim que se chama o profissional que atua com esta linguagem) foi muito pragmático, para a oficina não se enveredar na terapia, ou na filosofia, que o tema suscita. Na medida que o trabalho avançava, eu entrava em contato com o meu abismo até me perder completamente. O fato é que mesmo se tratando de uma oficina com fins práticos, para trabalhar com a sombra dentro do contexto da arte, além do contato com as etapas de produção desta arte extremamente complexa, eu entrei em contato comigo e vou levar para a minha técnica pessoal esse aprendizado. Por uma arte que se recusa a se engessar.Com vida e compromisso com a verdade. Percebi que com a sombra não se brinca, até você seguir e aprender os protocolos. Não é fácil olhar para a sombra, e uma regra do jogo é não perdê-la de vista.A complexidade reside na percepção da superação do ego,nossas técnicas e presunções não se encaixam no desejo da sombra.Para permitir que o seu tempo seja revelado é necessário caminhar na verdade e na essência de cada um, no estudo e na pesquisa. No universo da sombra existem muitas camadas para serem desveladas.O ritmo é outro,o tempo acontece no mergulho na atemporalidade. E quando aparece a luz diante da tela branca, aí sim vem o abismo. Fiquei amiga da sombra, mas quando me encantei por ela fiquei deslumbrada, caí em outro ponto cego.É preciso ser exata, precisa nas idéias, consciente da luz,e de tudo o que envolve ter algo a dizer, construir uma narrativa com início, meio e fim. O tempo é senhor de tudo, e o nosso tempo de aprendizado era muito curto, para compreender um universo tão grande, mas foi suficiente para perceber a beleza do inusitado, do improvável, do inexpugnável.A nossa sombra, que negamos, é justamente o que nos define como seres humanos.Nós somos feitos de luz e sombra. "A sombra está em oposição à luz, representando tudo que seja irreal, fugidio e sujeito à mudanças. Para muitos povos da África está associada à morte ou ao reino dos mortos e é considerada uma segunda natureza do ser. Entre vários povos indígenas da América do Sul, uma mesma palavra significa sombra, alma, imagem. No Islã, toda manifestação da realidade é considerada como a sombra de Deus. Na psicanálise, sombra representaria: as tendências incompatíveis ou traços inferiores do caráter, tudo aquilo que a pessoa recusa admitir ou reconhecer, porém sempre se impõe a ela"

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