MÃES PARALELAS- ALMODOVAR E A DECOLONIEDADE

Assisti ao filme "Mães paralelas " do cineasta Pedro Almodóvar. O filme é de uma delicadeza, de um refinamento magistral. A força do feminino, da maternidade para falar de identidade. A personagem interpretada pela Atriz Penélope Cruz é intensa e profunda e nos revela o quanto a guerra destrói vidas, tira o direito dos vivos enterrarem seus mortos, e o quanto esta ausência da ancestralidade perdida, afeta o sentimento de pertencimento de um clã, uma tribo, um país. A falta de memória da própria origem é tão forte, que a personagem de Penélope Cruz, a Janis, gera um bebê, que quando nasce, ela não reconhece os traços de ninguém da sua família na sua filha, e isto a impede de se reconhecer, apesar de amar muito ser mãe, a sua própria maternidade. Simultaneamente ela contrata um arqueólogo para encontrar os restos mortais de sua família que foi vítima da guerra Civil Espanhola. Todas as atrizes do filme, estão narrando um aspecto da força do feminino, e da nossa capacidade de juntar os nossos ossos, lamber as nossas feridas, juntar as cicatrizes que ficaram, transformando sempre em resgate da Identidade e da memória da nossa ancestralidade. Almodóvar mostra magistralmente a importância e significado da preservação e a memória de um povo e não silenciamento das origens e resistir ao apagamento do que não está numa visão única de pensamento eurocêntrico.
Que a guerra é deletéria, em vários níveis e sem mostrar uma gota de sangue, ele faz da sua arte, o cinema, um manifesto contra a guerra , a intolerância, o preconceito, e o quanto tudo isso nos afasta do humano, e de quem somos nós, e que nos arrasta para a busca dos nossos ossos, cravados na terra, arrancados pela crueldade de regimes autoritários e ditatoriais. Felizmente o nosso extinto de preservação e poesia é maior do que a guerra, e esta jornada de resistência e resgate da memória do humano é magnífica.

Comentários

  1. Os filmes de Almodóvar são no mínimo impactantes, sempre agudos como um estilete, vou procurar assistir esse, agradeço a indicação. Guerras são sempre terríveis, más elas sempre houveram e a humanidade continuou sua marcha, porém não devemos sofrer pelo inevitável, pois cada um escolhe o caminho que considera mais adequado. Pobres de nós humanos, que não compreendemos a diferença entre a Permanência e a Impermanência, vivemos como se a Morte pudesse ser evitada, onde algumas pessoas estão se mumificando em vida, atrás das ilusões da efêmera beleza física, quanto tempo perdido em busca de um pote de ouro que sequer existe, quase ninguém lembra que em potes lindos podem haver terríveis venenos, de pouco adianta focar na embalagem e esquecer o conteúdo. Porém creio numa Misericórdia Infinita e algum dia todos nós nessa vida ou em outras, encontraremos nosso verdadeiro significado existencial, onde tudo então fará sentido, porque somos filhas e filhos das Estrelas, divindades enclausuradas em vasos físicos, más algum dia tornaremos ao nosso voo, voltando para nossos lares cósmicos, ou ainda, quem sabe desbravaremos outros mundos, outras dimensões, porque em tudo há uma bondade infinita onde tudo pode ser possível. Se algum dia você aparecer no Rio Grande do Sul em Caxias do Sul mais exatamente, me avisa, virei seu fã, aliás comecei a te seguir no Instagram, opa, fica tranquila, não sou stalker, o fato é que dançarinas como você são muito raras no Brasil, então é isso. Saudações.

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    1. Muito grata Toninho, tenho uma relação profunda com Porto Alegre. Suas palavras são ilustres, a arte é um caminho para elevar a humanidade para o sublime.

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