ESTUDO SOBRE UMA ÁRVORE

Eu morava num apartamento que da minha janela dava para ver uma única árvore majestosa com um caule gigantesco. Ela reinava soberana e sozinha. Um dia caiu um raio e ela amanheceu cortada ao meio. Quando acordei e fui para a janela vê-la me deparei com aquela imagem dantesca: Ela estava partida ao meio, metade no chão e metade altiva em pé.Cortaram a metade que estava no chão.E no dia seguinte quando vi o resultado me surpreendi com a força daquela árvore que resistiu a tudo e permaneceu linda e de pé. Nesta fase estava atravessando uma crise aguda de depressão e permaneci ao lado dela com uma pergunta que permaneceu comigo durante muito tempo. Como seguir em frente quando algo nos atinge no meio do peito? Como caminhar partido? Esta resposta só chegou agora. Estava dando uma aula de dança e ao colocar para as alunas as minhas dificuldades para entender certos movimentos na dança, quando estava no início do aprendizado e me questionava como um corpo pode levar os braços para frente, quando o quadril vai para trás, e como meu corpo pode responder a tantos deslocamentos, sendo usado separadamente cada parte do corpo em direções opostas e seguidas posições esculpidas para gerar desequilíbrio no equilíbrio e seguir inteira comigo me fazendo sentido. E eu percebi assim do nada que já me quebrei muito desde que entrei em contato com aquela árvore partida e que estou me especializando em caminhar apesar de todos os golpes da vida, porque eu sei que posso encontrar o caminho de volta para casa, meu ser. Eu aprendi a caminhar partida, fragmentada e desequilibrada e ao mesmo tempo me pertencendo. Me sinto inteira para entender porque o dramaturgo Willliam Shakeaspere (1564-1616)já dizia no século XVI que o mundo não pára para que a gente se consertar. Mas é possível sim permanecer inteiro apesar de tudo.

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