PESO E LEVEZA

Planejar formas, espaços e proporções no meu corpo. A questão é como resolver o conflito entre sair do limite e ir para um lugar seguro. Dançar todos os dias, nem que seja em pensamento, a riqueza de me sentir viva e agradecendo a Deus. Estou em plena mutação. O projeto Baraka era uma imersão no universo simbólico do corpo e da expressão do sagrado, baseada em técnicas do estilo de dança Clássica Indiana Bharatanatyam. O resultado desta pesquisa foi a montagem do espetáculo BARAKA, com programa contendo técnicas pesquisadas. O meu novo projeto é a continuidade do meu processo de pesquisa .Pretendo ampliar o intercâmbio de técnicas com um bailarino de balé clássico e o diálogo com a escultura e a arquitetura. No estilo Bharatanatyam,o meu treinamento corporal exigia usar a gravidade a meu favor. Não sei se todos os bailarinos de dança Clássica indiana pensam assim, mas foi a maneira que encontrei para dar sentido àquela elaborada técnica que me exigia compreender um corpo equilibrado no desequilíbrio, numa forma tridimensional, sem espaço para improvisação, e o movimento linear. Dança que predominava o elemento terra, e a grande beleza nos detalhes. O treinamento utiliza todas as partes do corpo fragmentado para dançar o corpo por inteiro. Não pretendia dominar a técnica e ser uma bailarina de dança clássica Indiana, o meu objetivo é ter uma base técnica para criar a minha técnica pessoal. Ter o domínio do meu processo de pesquisa e a criação dos meus espetáculos. Nesta nova proposta ainda estou pesquisando o movimento leve, o elemento ar como base.Acrescentar delicadeza na força, linhas expressivas, plasticidade nos movimentos, estudo a trajetoria dos meus movimentos, livres, ousados, sem couraça, de dentro pra fora.Enfim me danço no espaço. Eu sei que quando começar o intercâmbio com o bailarino e as outras linguagens, vou reconstruir o meu norte, criar novas regras e levar o meu corpo para outras paisagens, novas intervenções, novos paradigmas.Sou feita de interrogações. preciso entender a minha insatisfação e a necessidade de continuar buscando a minha verdade em cena. Hoje minhas mestras são as árvores. Ando pela cidade, observando árvores, e criando coreografias a partir delas.Observo também a minha sensação e a relação com os espaços,curvas, retas e as espirais contidas nos edifícios,e quando sinto e observo leveza e menos rigidez neles, parece que dançam sobre o asfalto.Observo o balé das nuvens do céu de Brasília e as formas. Estou experimentando novamente a sensação de não saber o caminho, de voltar a me transformar em vários estados da matéria. Posso ser sólida, líquida e gasosa. No momento me sinto vaporizada diante da seca de Brasília. Quero que me leiam pela emoção, sem legenda. Escolhi o corpo como matéria prima de crescimento. Posso transformar peso em leveza, desafiar a gravidade e o tempo. "Acho que loucura é perfeição. É como enxergar. Ver é a pura loucura do corpo."

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