TEMPO - MULHERES SAGRADAS

Fui convidada para fazer uma apresentação de Dança na Mostra Mulheres Sagradas. Estava nos bastidores, aguardando minha vez de entrar em cena. Avistei uma senhora elegante de gestos graciosos, num figurino maravilhoso também esperando. Num passe de mágica começamos a conversar. Ela também se chama Maria e nós celebramos o fato de sermos Maria. Ela com 83 anos, me perguntou sobre o porquê de terem classificado que ela estava na melhor idade, e ela nem esperou minha resposta, foi logo dizendo que era por que era a melhor fase da vida dela e que era o momento de se despedir aos poucos. Eu reconheço uma mulher sábia de longe e já fui me preparando para ouvir como se tivesse cinco anos de idade. Maria começou a me falar sobre perdas e me contou que quando perde alguém não lamenta que perdeu e sim agradece por ter tido aquela pessoa na sua vida, ela me disse que honra tudo o que viveu com aquela pessoa, agradece o que viveu e não lamenta o que perdeu .E foi logo me pedindo para não imaginar que ela é fria e insensível, mas que ela sente a dor da perda, mas não esquece do privilégio de ter amado aquela pessoa naquele espaço de tempo profundamente. Me disse que tem sete filhos e sempre pede para eles não lamentarem sua morte, por que eles precisam agradecer antes de lamentar a sua morte, o privilégio de ter tido uma mãe. E se ela é infinita vai reservar espaço para todo mundo no outro plano.Maria me ensinou tanto sobre o tempo e sua passagem e a sabedoria de se manter inteira em qualquer fase da vida e principalmente dançando cada encontro e cada presença, por que se foi vivido cada segundo com quem estamos, morrer é mais uma etapa da vida. Nós teremos a cada despedida a capacidade de agradecer por ter vivido e amado e lamentar a perda fica menor do que a alegria de ter conhecido e amado cada ser que passa por nossa vida. Quanta sabedoria naqueles olhos, naqueles braços frágeis e naquele cabelo leve como algodão. Aprendi tanto que fiquei ao me despedir dela me sentindo infinita.

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