A ÚLTIMA DANÇA

Li um frase do grande mestre do Butoh Kazuo Ono (1906-2010),ele foi um dos criadores do Butoh uma dança que surgiu no Japão pós guerra, nos anos 50. Kazuo Ono nos disse que era para se "dançar sem pedir licença como uma flor nascendo". Segundo a estética desta arte que tinha como proposta a subversão das convenções, caracteristicas assumidas pelas vanguardas,era uma fusão da tradição milenar do Japão com a vanguarda européia, como o surrealismo, o expressionismo e as danças Japonesas como o Nô e o Baguru. O Butoh busca uma forma de expressão que não seja necessariamente coreografada, com movimentos lentos, sem movimentos estereotipados que remetam a uma técnica específica. O Butoh preocupa-se em expressar a individualidade do dançarino-ator, sem máscaras e véus de alegoria; expressar o que o ser humano tem de verdade em sua alma, em seu espírito, mesmo que para isso se desvende o que pode haver de mais sórdido, solitário e de trevas no interior do dançarino. E para que isso seja expresso, não é possível que o meio pelo qual se dá a expressão seja preso à convenções que mascaram a verdade da alma humana. O que deve ser feito, segundo a filosofia Butoh, é libertar-se das formas do corpo e do pensamento. E foi justamente o que aconteceu comigo. Estava numa roda, com amigos dançantes e não fui convidada a dançar e nem me convidei, a dança me chamou e não consegui pedir licença como sempre faço, não havia pensamento,mas não conseguia parar de dançar,era o meu corpo numa qualidade de presença e transcendência sem nenhum limite,julgamento ou técnica, sequer havia um tema a ser dançado, era eu mesma na minha dignidade e coragem. Me oferecendo a mim mesma,sem nenhuma explicação, o que realmente importava era a verdade que exalava dos meus movimentos.E todos ficaram parados e em movimento, com os olhos e os corações conectados aos meus olhos e coração. Foi um momento de viver o sublime, viver o aqui e agora sem amanhã. Eu era uma dança, uma meditação, um convite. Estas coisas demoram a acontecer, mas quando um grupo está totalmente embalado pela alma, sem egos, ou pensamentos em detrimento das ações, a magia da nossa humanidade consegue sair da prisão dos nossos medos no corpo e nosso ser começa a flutuar e tudo pode acontecer, até viver o sublime que habita em cada um de nós. Para mim foi uma morte, uma ultima dança que fechava um ciclo dentro de mim. Era uma dança de morte e ressurreição porque a dança me disse que posso entrar e dançar,que alguns medos e crenças foram rompidos.E principalmente a crença de que não mereço ter prazer. Conquistar o meu prazer de viver, está sendo uma das minhas maiores celebrações e que venham mais mortes.Viva a vida. No final uma amiga me abraçou e me disse que se sentiu exclusiva e eu me senti única!

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