O DEVIR NA DANÇA

O movimento era para o devir, para continuar sendo como sou,me entendendo aos poucos, já que na vida não dá tempo para ser enquanto a vida acontece dentro de nós. Muitas vezes leva um tempo para se situar no espaço e muitas vezes caminho quebrada por dentro, sem tempo para unir meus pedaços. Vou fazer o relato de um momento com a dança, numa aula de Biodança, com a facilitadora Neusa Ribacionka, muito especial. Apesar de estar desconstruída por dentro, dançar me revelou minha essência,e acabei saindo da experiência integrada. Fui convidada num determinado dia a escolher um lugar no espaço ,numa determinada sala para realizar um trabalho corporal.A proposta do exercício era através do movimento interno gerar uma dança pessoal. Meu corpo ao contrário do que eu esperava ficou parado, imóvel, inerte.Continuei sentindo e totalmente entregue. Em toda pessoa que dança, é natural que ao primeiro sinal de música e permissão interna, mesmo no silêncio ela dance. Que pessoa esquisita que sou! Todo mundo dançando e eu ali parada.De repente começou a surgir um movimento muito sutil, muito na alma, e esse gesto não cresceu muito pra fora, foi aumentando em intensidade interna.Cada gesto tinha presença, consciência e nobreza.Uma dança de desvelamento,uma dança para meu interior. Eu que sempre danço para o outro, presente dentro da alma, dancei comigo, meu movimento me pertencia. Voltei para mim.Segui meu movimento me pertencendo, sendo. A vida oferece muitos caminhos para nos proporcionar encontros com nosso mundo secreto. As respostas estão contidas no corpo e nós temos através destas vivências, espaços para consertar a asa quebrada e caminhar novamente, com a nossa casa/corpo arrumada. Basta permanecer receptivo. A leveza pode ser construída, apesar de todo o peso do que aconteceu conosco e de muitas vezes nada fazer sentido. O movimento ressignifica nossa presença no mundo e estar com o outro passa a ser uma aventura interessante carregada de experiências mágicas, sinceras e cheias de lições sobre a arte de viver. Nós temos a capacidade de nos encantar e celebrar estar vivo. Eu estou me transformando numa atleta afetiva, morro e renasço toda semana e me permito renascer, trocar a pele e voltar inteira. A dança me encontrou.

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