LINGUAGEM SECRETA

Na véspera do Natal, estávamos varando a noite conversando,eu e minha irmã sobre a ausência de nossa mãe na nossa vida,apesar da sua presença.Minha irmã fala a metalinguagem comigo, porque também tem a linguagem de si mesma como foco de investigação,e eu também,apesar dos percursos diferentes. Nós nos costuramos através da arte e nos fazemos sentido assim, através da poética corpórea no nosso cotidiano, ela na palhaçaria e eu na dança.Conversamos sobre como preenchemos os nossos vazios, tentando agarrar o vazio diante da vertigem e da derrapagem.Num certo momento lembrei de um curso que fiz cujo a premissa era uma frase do filósofo Nistsche sobre como andar na corda bamba e se manter equilibrado diante do abismo.Olhamos nossa mãe,sua presença vulnerável que a velhice inside. Tudo certo sabedoria sempre, mas ele o vazio estava lá sussurrando baixinho submerso no meio dos festejos natalinos e a maternidade que se processou de modo torto, como em tudo na nossa Vida.Mas o que parece torto se revela como o supra sumo da nossa humanidade e se desvela na arte que é nosso parto, o nosso parimento diário de nós mesmas.Pode ser que o vazio que ainda não alcançamos,seja o caminho e o método,mas para os nossos filhos a maternidade se fez presente,com o sagrado da vida dizendo sim. O princípio do não dito, que se faz voz e memória do corpo que se transforma na nossa matéria prima e principalmente em cura e colo para o mundo.Até aquilo que parece esquecido não morre para o corpo e se manifesta através dele.

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