CORPO NARRATIVO

"o pensamento vem do corpo". trazendo para o presente o estado efêmero da dança. A escrita e a criação de símbolos permite a perpetuação de uma coreografia que pode ser reproduzida em outro lugar, ou criada em lugares simultaneamente, além de facilitar o estudo e sistematização. Pensar o movimento e associá-lo ao cotidiano. A video-dança e outras plataformas digitais,e a pesquisa de vários teóricos e bailarinos sobre o corpo em estado de atuação, contribuem para ampliar a criação de novos signos, o diálogo transcultural, para dar acesso a novos pesquisadores e melhorar o diálogo tradição e inovação. O Natyashastra é o mais detalhado e elaborado de todos os tratados sobre a dança, teatro e musica. Considerado como um dos textos mais antigos do mundo é a fonte de minha inspiração. Há alguns anos sendo dançarina-intérprete-criadora, investigo esta relação corpo-texto. A dança que desconhece o dilema teatro e dança, porque ambas se manifestam de maneira simbiótica numa única manifestação.O corpo é um sistema de símbolos e memórias que podem ser acessadas a serviço da mitologia pessoal de cada um, ou universal. A diferença é que a arte corpórea oriental esse texto foi codificado e sistematizado há milênios,a atriz-dançarina só precisa aprender esse vocabulário e executá-lo. Nesta arte improvisar é impossível. No nosso caso a gestualidade pode ser codificada no caso do balé clássico, que tem um repertório que pode ser compreendido e encenado no mundo todo, e pode ser uma linguagem específica de cada estética que pode ser a dança contemporânea,o tango,dança Flamenca e outras danças que têm a sua complexidade e a manifestação da sua origem simbólica e cultural. Somos diferentes no aspecto narrativo quando a técnica passa a ser uma veículo que acolhe o território da inovação. Um músico quando vai tocar tem como instrumento aliado á técnica a partitura, da mesma forma uma atriz-dançarina pode criar uma partitura para servir de elemento narrativo em cena. É possível ser a narradora de si mesma e a protagonista de si mesma. Um corpo pode ser traduzido em cada parte pela palavra e através de sua expressividade pode ser um livro que quando aberto é território de revelações , emoções e memórias.Desde os primórdios,nosso ancestrais usavam o gesto para se comunicar, o desenvolvimento da fala e dos gestos foram aquisições resultado de um processo de busca, até a descoberta do polegar opositor,a fabricação de instrumentos e todas as descobertas importantes até hoje. Com toda inovação ainda necessitamos de ouvir histórias, de acalentar o nosso coração e ouvir o que o outro tem para contar. Infelizmente o corpo é o último a saber, é nítido o empobrecimento da linguagem gestual no cotidiano, é como se o corpo estivesse numa "camisa de força", ou no mínimo ele pode ser usado para fins associados a nossa cultura do corpo magro e esbelto, em detrimento do corpo que sente, afeta e é afetado. Portanto buscar narrar histórias através do corpo é uma grande possibilidade de ampliar nosso lugar no mundo, porque é através do corpo que todas as nossas memórias estão armazenadas, e a ciência já comprovou que estão gravadas até no nosso DNA.

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