VESTIDA DE VENTO

Segundo o filósofo Gilles Deleuze(1925-1995), o corpo é potência e, ele só produz significado na presença de outro corpo. Interessante que se o corpo é significativo diante da presença, o corpo também é acontecimento. Outro filósofo Baruch Espinoza( 1632-1677) definia o corpo como uma complexa relação de movimento e repouso, velocidade e lentidão e pelo poder de afetar e ser afetado. Esta semana tive a oportunidade de vivenciar no meu corpo o que pode um corpo.Eu estava triste e fui à aula de biodança, e quando fico assim meu corpo fica sinuoso e impreciso nos movimentos. A facilitadora sugeriu um exercício em duplas,era para caminhar pela sala, juntos e em duplas sintonizando o ritmo, com uma música galopante que ressoava dentro de mim. Minha sensação era de total desamparo porque meu corpo não queria ir diante de minha nobre amiga que estava no ar quase voando, ela é assim de uma sutileza sábia desconcertante.Mas é nestas horas que um corpo pode ser afetado por outro e se ressignificar. Meu corpo triste começou a receber olhares de força cheios de significados,os nossos braços se entrelaçavam e minhas pernas bambas começaram a criar forças e de repente estava voando com ela, saltando e rindo, como duas crianças.Sua divina presença diante da minha me curou. É claro que meu corpo está treinado para entrar em sintonia muito fácil, porque já busco acessá-lo há muitos anos. Mas todo ser humano que se deixa levar pelos caminhos do corpo e confia encontra seu sentido e se revela.Importante nesta revelação é que uma vez fisgado, tudo passa a ter significado, a nossa relação com tudo se transforma. Esta presença que significa pode ser muito ampla, esta relação passa a ser com as plantas, os animais e tudo o que nos cerca. A artista Sérvia Marina Abramovic, artista super conceituada na arte do corpo,performance e instalação, em seu documentário'Espaço além- Marina Abramovic e o Brasil. Ela percorre seis estados Brasileiros em busca de processos de cura e de lugares de poder e cura através do sagrado.Marina sempre pensou sua arte como príncipio de interação e compartilhamento entre ela, sua arte e o público, estas relações são simbióticas. Em uma cena, ela firma que a natureza não precisa dos seres humanos, que a arte é um portal e nós da cidade é que precisamos aprender a sentir o silêncio, escutar e ouvir através da natureza e que não precisamos de arte na natureza, precisamos de arte nas cidades, para que além da estética, nossa percepção seja ampliada, nossa sensibilidade seja tocada em cada gesto. Hoje, estava atravessando um jardim,e percebia os raios do sol incidindo sobre elas e algumas folhas caindo, num grande balé e de repente senti um vento muito forte me envolvendo e era uma sensação de abraço do vento me enlaçando toda, me senti viva, sorri sozinha seguindo meu caminho e algumas vezes parava para abrir os braços e sentir, aí lembrava do meu destino e também fiquei pensando se estava ficando maluca por estar tendo um caso de amor com o vento, mas assim deveria ser nossos dias, apaixonados. Sustentei esse momento o quanto pude, porque ele passou e virou passado e eu sei que andarei muitas vezes por esse caminho, mas não serei a mesma, e nem o vento vai passar da mesma forma, portanto a importância de estar presente se relacionando com tudo.

Comentários

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  2. Amada Maria, sem palavras p expressar o bater forte do meu coração e os arrepios em minha pele. Salve, salve a sensibilidade e beleza do seu ser personificado em cada instante e movimento! Gratidão profunda por compartilhar este instante em nossas vidas.
    Com admiração, lhe dou meu amor. 💗

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