ODE A SUTILEZA

Hoje fui a uma palestra e descobri uma infinidade de percepções da realidade alterada como por exemplo as quatro formas de avaliação do diagnóstico para o déficit de atenção e que existem uma infinidade de limitações que são geradas por uma deficiência no processamento no cérebro. Existem além do padronizado,um caleidoscópio de formas de ver ,sentir e entender a realidade e são graus de percepção do ambiente,das cores dos sons. Descobri que existem pessoas que vêm os números coloridos e outras que vêm as letras dançando. Me parece que existe um universo muito grande a ser desvelado, onde a sensibilidade precisa puxar a cadeira e sentar.Temos uma sociedade que está começando a perceber que é impossível padronizar todo mundo e a cada dia a voz da diferença está ganhando força. A escola pode punir um aluno que tem uma dificuldade de processar um som, ou uma palavra,muitas vezes alguém pode ser muito visual aprende mais com imagens do que com o som.É o meu caso, sofri muito na escola e ainda tenho dificuldade de estar confortável no mundo, por ter uma percepção diferente. Não me importo com coisas, perco celular e objetos o tempo todo e esqueço de muita coisa mesmo, sou classificada de avoada a estranha e até maluca mesmo, porque valorizo ideias, preciso criar e faço isso o tempo todo, sou do tipo que coloca o arroz na panela e esqueço queimando já que estou imaginando uma coreografia, ou uma aula ou pensando sobre o mundo, e quem convive comigo me entende e me respeita, já que sou toda abraço e doação e inteira para o que realmente importa.Sou responsável, mas não fico mais descabelada por conseguir subir num palco e executar uma coreografia e no cotidiano não consigo ficar um dia sem esquecer, perder ou fazer alguma confusão.Mas estou lá assumindo meu lado esquisito e me colando ao padrão.Meu defeito está visível e eu agradeço por fazer parte de minha história, ainda bem que minha percepção da realidade não é linear, se não como dançaria o inusitado, as oposições ou a tridimensionalidade? Mas eu tive a sorte de sobreviver sendo esquisita e de gostar de ser como sou, mesmo sabendo que muitas vezes ser sutil e cultivar poesia num mundo que exige funcionalidade o tempo todo é um ato de bravura. O ideal mesmo é fazer omo aquela sabedoria japonesa do vaso que quando quebra é colado com um esmalte dourado, porque o defeito é uma parte inseparável da história objeto, eles precisam ser aceitos e não escondidos. Como dizia o mestre da psicanálise Jung, precisamos acolher a nossa sobra e a nossa luz. Encerrei a noite vendo a diva do Jazz,Billie Holiday( 1915-1959) cantando Strang fruit uma canção que narra o absurdo que eram os linchamentos dos negros nos Estados Unidos, eles eram mortos e pendurados em árvores com a metáfora do fruto estranho. Esta música teve um papel importante na denúncia de uma ação que era mero entretenimento e uma forma de dizer ao negro que mesmo se ele tentasse lutar ele deveria saber qual era o seu lugar. Mas a imagem que está na minha mente é dela em 1939, cantando uma música proibida, que ela deixava para cantar no final do show, com uma luz negra,iluminando o seu rosto, com a sua Gardência atrás da orelha. Relatos de quem teve o privilégio de vê-la é que no final não havia uma única alma branca ou negra que não se sentia estrangulada,era um silêncio seguido pelo som de mil pessoas suspirando. Isto é o que uma atmosfera pode fazer com a nossa percepção, mesmo não estando lá senti com eles.

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