IMOBILIDADE NO MOVIMENTO E A CRIAÇÃO DE ENERGIA

Existe um princípio contido na arte corpórea oriental que pesquiso que é muito interessante, que é usar o máximo resultado com o menor uso de energia. Utilizar a sabedoria do corpo para se construir um equilíbrio de luxo, um equilíbrio no desequilíbrio. O ator-dançarino oriental possui um repertório orgânico para se orientar e uma linguagem corporal sistematizada e codificada. No ocidente temos que construí-la ao longo do processo de criação, mesmo tendo uma técnica. Numa técnica sistematizada posso citar como exemplo no ocidente o balé clássico, existe a forma primeiro, o corpo precisa assimilar e reproduzir aquela gestualidade, não existe improviso, ou gesto espontâneo. Técnicas sistematizadas no oriente como a dança clássica Indiana, o Kabuki, a dança de bali, do Camboja,a ópera de Pequim, O teatro Nô e Kyogen, são manifestações artísticas que exigem um treinamento corporal intenso e muita disciplina porque cada gesto é uma palavra e para dominar esta escrita do corpo o ator-dançarino precisa incorporar esta linguagem simbólica no corpo para transformar o seu corpo em elemento narrativo. Nas tradições orientais, no balé clássico e no sistema de mimo de Decroux, cada gesto do corpo é dramatizado para que se rompa com os automatismos do comportamento do cotidiano.Faz parte do treinamento do ator-dançarino oriental criar uma consciência da energia no corpo que faz com que ele seja capaz de reter a energia que continuamente ele produz e renova. A energia se manifesta por meio de uma imobilidade que está atravessada e carregada por uma tensão máxima: é uma qualidade especial de energia que não é, necessariamente, o resultado de um excesso de vitalidade ou do uso de movimentos que deslocam o corpo.Menos é mais.Um ator oriental ou ocidental pode se cansar muito mais praticamente quando não se move, isto exige reter a energia e provocar a pausa no movimento, é uma dança de oposições onde o ator-dançarino revela a sua vida, o que está escondido na resistência e na sua capacidade de aguentar firme e resistir. Interpretar a sua ausência.Nas tradições orientais, o verdadeiro mestre é aquele que está vivo na imobilidade. Nas artes marciais principalmente, a imobilidade é sinal de que a pessoa está pronta para a ação.No taoismo existe o seguinte conceito: " A tranquilidade que tranquiliza não é uma tranquilidade verdadeira: o ritmo universal só se manifesta quando há tranquilidade em movimento."

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