PESO E LEVEZA

Li um texto recentemente do escultor Americano Richard Serra ( 1967-2015), sobre uma interessante experiência que viveu aos 4 anos de idade. No seu relato, a iniciativa do seu pai de levá-lo para ver a trajetória de um navio zarpar, mudou, transformou, moldou a sua maneira de ver o mundo e influenciou a arte que produz. A descrição do navio que primeiro afunda, para depois submergir.O que era pesado ficara leve diante dos seu olhos. Pensei na trajetória do corpo quando dança. O diálogo com o peso, a leveza e outros estados é enorme. Dançar com a gravidade. Dançar é ter a consciência de que estamos a cada momento transformando o peso em leveza, leveza em rigidez em doçura, somos todos os estados da matéria. É possivel ser sólida, gasosa e líquida. Um movimento pode ser iniciado sem vitalidade e em seguida ser transformado em vitalidade e força. Pode ser o contrário também, dançado ao avesso, o complexo inominável e assimétrico. Dentro e fora impulsos são exigidos e através de muita disciplina e treinamento, uma dança livre, orgânica e verdadeira emerge. A dança nos permite vivenciar esta transição no corpo e na alma. Pode ser que a vida seja também um exercício de Alquimia constante, com pequenas mortes e milagres, acontecendo durante o nosso cotidiano. Transformar o que é ruim em aprendizado e o que é bom em celebração. Ter rítmo, ter visão espacial e sintonia com a linguagem do corpo e os seus sinais. Aprender as lições para nos fortalecer como um navio que afunda para submergir.

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