O TEATRO MUDO DO ABSURDO

O teatro mudo do absurdo 

Armatrux volta a encenar “No Pirex”, peça com traços góticos

que mostra relações de poder ao redor de uma mesa

H-
PUBLICADO EM 20/02/14 - 03h00
gustavo rocha
“Deus está nos detalhes”. A frase do arquiteto alemão Ludwig Mies van der Rohe, longe de qualquer caráter religioso, ressalta a riqueza e a importância de um trabalho minucioso. E talvez não haja em Belo Horizonte um diretor que ponha tanto reparo nos pequenos detalhes quanto Eid Ribeiro.
O público pode conferir um bom exemplo desse zelo com o espetáculo “No Pirex”, do Armatrux, que volta a se apresentar dentro da Campanha de Popularização do Teatro e da Dança.
A montagem, que mostra o encontro de cinco personagens em torno de uma mesa de restaurante, nasceu em um período “não criativo” do grupo, quando ele se encontrava entre um espetáculo recém-estreado e planos para um próximo. “Nós convidamos o Eid para trabalhar em cima dos nossos palhaços. E, a partir daí, começamos a buscar um lado mais negro, mais grotesco desses personagens. Meio bufão, mais velhos. E isso foi para nosso trabalho físico”, destaca Tina Dias, atriz e integrante do Armatrux.
A artista conta que os ensaios começaram em torno de uma mesa, com só uma xícara e uma colher. “Aos poucos, tudo que tínhamos na nossa cozinha ganhou a sala de ensaio. Copos, pratos, pires. Tudo mesmo”.
O livro “Na Pior em Paris e Londres”, em que George Orwell conta experiências pessoais miseráveis nas duas cidades, no início dos anos 30, também serviu de inspiração ao grupo. “Ele começava a contar o submundo dos restaurantes, um mundo grotesco, diferente daquela pompa. Nesses bastidores, havia uma relação de poder entre o dono, o patrão e os funcionários. Também uma disputa entre os próprios empregados”, comenta Tina.
A curiosidade é que o espetáculo não tem fala nenhuma. “Aos poucos, Eid foi retirando a fala de cada um de nós e, quando percebemos, ninguém falava mais nada”, revela a atriz. O trabalho também bebeu do cinema mudo de Charles Chaplin e Buster Keaton. “Sempre gostamos muito dessa relação entre cinema e teatro”, garante ela. O fato de não ter texto dito facilitou a circulação do espetáculo por festivais e outros países. A peça já esteve na Argentina e na Bolívia.
A relação de Eid com o Armatrux ganhou força nos últimos anos. Além de “No Pirex”, o grupo encenou o infantil “De Banda pra Lua”, texto do próprio Eid, e prepara uma nova montagem com estreia prevista para maio, intitulada “Tacht”.
“Creio que ele consiga unir o trabalho que nós desenvolvemos em nossa história com a trajetória dele próprio. Esse teatro de objetos, físico, de formas animadas, os truques que é uma marca do nosso grupo, ele se apropriou disso. A chegada de Eid foi fundamental, porque ele é um diretor que tem esse olhar rigoroso para o trabalho do ator, algo que nós sempre buscávamos. É legal ver um diretor atento e pronto para dialogar com o que o grupo tem como linguagem, como potencial”, destaca Tina.
O quê. “No Pirex”
Quando. De hoje até 02 de Março. Quintas e sextas às 20h; sábados e domingos às 19h
Onde. Centro Cultural Banco do Brasil (praça da Liberdade, 450, Funcionários)

Quanto. R$ 10 e R$ 5 (meia entrada)

Comentários