Patrocínio para a dança

O Boticário anuncia patrocínio em companhias e festivais de dança no Brasil. Será um novo fôlego para a área?

por Estela Cotes - 11 de dezembro de 2012
O grupo mineiro Mímulos é um dos primeiros a levar o patrocínio do projetoO grupo mineiro Mímulos é um dos primeiros a levar o patrocínio do projeto

Quem acompanha o cenário cultural no Brasil sabe que quando se fala sobre dança apenas alguns nomes surgem à cabeça (e na mídia). Débora Colker e Ana Botafogo são sem dúvida os mais conhecidos, sinônimos de qualidade. Mas em um país com ritmo enraizado em suas tradições a profusão de companhias competentes em diferentes áreas é uma realidade.

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Se elas não chegam aos nossos ouvidos (ou olhos!) é principalmente por falta de verba. Tanto para manter uma estrutura física quanto para formar bailarinos ou viajar com seus espetáculos. Mesmo com a Lei Rouanet o incentivo da iniciativa privada acaba sempre caindo nas mãos de quem já tem repercussão.

Bailarinos do Cisne Negro se apresentaram durante o evento desta terça (11). O grupo está prestes a fechar patrocínio tambémBailarinos do Cisne Negro se apresentaram durante o evento desta terça (11). O grupo está prestes a fechar patrocínio também
Parece, no entanto, que o cenário da dança no Brasil pode ganhar um novo fôlego. Nesta terça (11), o grupo O Boticário anunciou sua nova estratégia cultural com foco nesta área. O projeto “O Boticário na Dança” tem duração inicial de dois anos e pretende patrocinar grupos, companhias e festivais no país.

“Nosso objetivo é trazer a dança como a beleza em movimento, trabalhar a formação da platéia, fomentar novos grupos e eventos”, explica Andrea Mota, diretora executiva da marca. O programa começa patrocinando o Mímulos e o Primeiro Ato, ambos de Belo Horizonte, além do “Festival Internacional Viva a Dança” e o “Festival de Dança de Joinville”.

Outra novidade é o primeiro “Festival O Boticário de Dança” que acontecerá entre os dias 1 e 9 de maio de 2013. Em parceria com a Duetto Produções e a XYZ Life, o evento levará espetáculos inéditos sob a curadoria do alemão Dieter Jaenicke para São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.

Entre as companhias nacionais estão a Mímulos, Bruno Beltrão (do Rio de Janeiro) que incorpora dança de rua à dança contemporânea e a Quasar, companhia de Goiânia com maior expressão na dança contemporânea hoje no Brasil. Além das internacionais Peeping Tom, da Bélgica, que traz poesia aos movimentos para falar de sentimentos humanos; Shen Wei, com coreógrafo que fez a abertura dos jogos Olímpicos de Berlim e a Hofesh Schecter, grupo inglês que coloca guitarristas de heavy metal no palco para compor a trilha sonora.

“Os critérios de seleção foram o ineditismo, a diversidade e a beleza dos espetáculos. Temos propostas que vão da dança contemporânea ao ballet contemporâneo, para reunirmos públicos diferentes no festival”, conta Dieter. Estão prometidos também ensaios abertos e workshops gratuitos. Os ingressos custarão entre R$15 e R$100.

Grupo britânico Hofesh Schecter virá pela primeira vez ao BrasilGrupo britânico Hofesh Schecter virá pela primeira vez ao Brasil


DINHEIRO NO BOLSO


Para a produtora Monique Gardenberg, da Duetto Produções, a dança tem um público muito fiel no Brasil e esta é a oportunidade de fazer a arte “florescer” no país. “Quando a companhia da Pina Bausch veio para São Paulo tivemos cinco dias de teatro lotado e com ingresso na casa dos R$400”, reflete.

Andrea Mota, do O Boticário, Monique Gardenberg, da Duetto Produções e Ana Botafogo apresentaram o projetoAndrea Mota, do O Boticário, Monique Gardenberg, da Duetto Produções e Ana Botafogo apresentaram o projeto


O alemão Dieter Jaenicke conta que a dança contemporânea é, na opinião dele, a arte que mais cresce no mundo. “Não vejo outra arte tão aberta para as inovações e com crescimento de público significativo nos últimos anos”.

Ana Botafogo, que apresentou a novidade no Theatro Municipal de São Paulo, acredita que este será um marco da dança no Brasil. “Acho que nunca tivemos tanto apoio como agora”, disse emocionada. A previsão da marca é investir de R$10 mil a R$15 milhões nos próximos três anos, prospectando projetos via Lei Rouanet ou leis de incentivos estaduais.

Quanto aos críticos e ao público fica a torcida para que a diversidade também fale alto na hora da seleção dos próximos agraciados pelo patrocínio – do grupo mais alternativo, ao mais regional, do mais tradicional ao mais jovem e expoente.

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